"Não devemos trabalhar sem planejamento e depois tentar, afobadamente, terminar o serviço às vésperas do prazo final. Precisamos fazer um bom planejamento e trabalhar com calma, seguindo o programa. Assim, tudo correrá bem, com bastante facilidade.
Neste mundo fenomênico, podem ocorrer imprevistos que provoquem alteração no plano inicial. Para que um eventual atraso numa etapa não comprometa o prazo final, é necessário que o tempo para a execução seja calculado com certa folga. Evidentemente, a folga não deverá ser excessiva; apenas o suficiente para contornar eventuais contratempos.
As pessoas que levam uma vida realmente prazerosa reservam esse tipo de folga no seu modo de viver. Em tudo, um pouco de folga é necessário. Na escrita, se as letras ficarem muito juntas umas das outras, o aspecto geral não será bonito. Na música, são importantes a pausa, o compasso etc. Também no trabalho, intervalos para descanso são necessários. Os patrões não devem cultivar a ideia mesquinha de que 'isso é um mal necessário; o contrato de trabalho nos obriga a conceder alguma folga aos empregados.
Houve época em que era comum o comentário de que os japoneses trabalham demais. Na verdade, não é bem isso. O problema é que muitos trabalhadores não administram bem o seu tempo. Terminado o expediente, vão aos bares, bebem, fazem algazarra e depois chegam tarde em casa. Por causa disso, não lhes resta tempo para conviver com a família, para fazer algo que melhore a sua cultura, para se dedicar a algum passatempo agradável, etc. Se os japoneses realmente trabalhassem em excesso, não teriam tempo para desperdiçar nos bares todas as noites, nem para fazer excursões pelo mundo afora e esbanjar dinheiro em compras.
O tempo pode ser proveitoso ou não, dependendo de como é usado. Existem pessoas que só conseguem agir segundo a rotina - pensando que isso é cumprir o expediente de trabalho - e acabam sendo sempre pressionadas pelo prazo para terminar o serviço. É bem provável que tais pessoas passem a vida inteira sendo pressionadas por algo.
Quem se encontra sob pressão acaba cometendo erros. Ninguém pode realizar algo perfeito quando é pressionado ou perseguido. Se isso fosse possível, um ladrão que tivesse praticado um grande roubo e estivesse sendo perseguido pela polícia conseguiria realizar atividades notáveis e viver bem. Será possível um escritor redigir textos primorosos sendo pressionado pelo editor? Conseguirá um artista tocar uma bela música enquanto é obrigado a apresentar um número de piruetas? Será possível um casal de amantes que encetou a fuga e está sendo procurado dedicar-se a estudos de temas difíceis como, por exemplo, 'nova teoria da relatividade'?
As pessoas devem ser donas de si próprias. Quem é dono de si mesmo não é pressionado nem perseguido por nada e por ninguém, vive com a mente tranquila e age com plena liberdade. Para possuirmos essa autonomia, não devemos deixar que nos persigam ou nos pressionem para realizar algo; é essencial tomar a iniciativa e encetar o trabalho com certa antecedência.
Preparar-se para o frio antes da chegada do inverno, providenciar o ventilador ou o aparelho de ar-condicionado antes da chegada do verão etc. são procedimentos possíveis ao ser humano. Viver com autonomia é o modo de viver mais natural de todas as criaturas."
Amigos, confesso que o primeiro parágrafo deste capítulo, se fosse escrito ou dito pelo meu chefe, não seria tão idêntico. Como ele mesmo fala, "advogados vivem de prazos, seu patrão é o prazo. Estando o prazo em dia, está tudo certo", agora, não estando...
Acho que o professor Seicho escreveu este capítulo pensando em nós, nobres causídicos. Mas também não apenas na gente. É mais ou menos um "guia para um trabalho feliz", ou seja, adiantando o trabalho, você obterá mais tempo, obtendo mais tempo, sua qualidade do serviço melhorará, melhorando a qualidade do serviço, você se destacará, você se destacando, progredirá", e, afinal de contas, qual o objetivo do homem neste pedaço perdido de ferro e terra no espaço sideral senão o progresso?
Gostei muito da última frase: Viver com autonomia é o modo de viver mais natural de todas as criaturas. E, como reza uma das normas fundamentais, temos que conservar sempre o sentimento natural, este sentimento natural passa, naturalmente, com autonomia em nosso viver, em nosso agir, em nosso cotidiano.
Belas palavras, confesso. Entretanto, quantos de nós vivem assim no seu dia a dia? Quantos de nós se imaginam prisioneiros do próprio destino, exatamente por lhe faltar esta convicção, ou melhor, esta percepção de autonomia em sua própria vida? Achamos que somos marionetes quando na verdade somos os manipuladores. Manipuladores de nossa própria vida.
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