Bom, deixemos estas considerações acerca de nosso livrinho um pouco de lado e comentemos um fato assaz curioso, que atingiu, pasmem, até mesmo minha anódina noiva: o regozijo nacional coletivo com a eliminação argentina na Copa do Mundo. Coisa curiosa, né?
Lá vai este blogueiro falar de futebol de novo? Ora bolas, vou sim, afinal de contas, o futebol é uma das metáforas mais perfeitas da vida, e prometo transmutar, em alguns parágrafos, e contando com a paciência do leitor, este artigo em algo, no mínimo filosófico...
Ontem o Brasil perdeu para a Holanda. Até este jogo, estava doido para ver o jogo dos argentinos, imaginando que seria um jogão, o que acabou sendo. Mas, com a derrota, sequer tive vontade de ler, digerir qualquer coisa de futebol.
Mas chega o dia de hoje e a überraschende goleada tedesca, mudei de ideia e juntei-me à corrente pra trás coletiva com a única vontade de atrasar o lado portenho. Mas, meu Deus, porque isso? E as comunidades no orkut? Os comentários? Os tuíteres? Meu Deus, o Brasil enlouqueceu! De repente, aqui virou a maior torcida alemã fora da Alemanha. Mein Gott, was gehschah hier heute?
(E isso que apostava e até torceria para os argentinos nesta copa, em detrimento dos europeus, mas... foi mais forte, confesso!)
No meu caso existia uma atenuante, que é a minha paixão adolescente pela germanidade, desde quando aprendi a língua de Goethe, há quase duas décadas atrás. Quando era criança pequena lá em Barbacena, efetivamente eu era um apaixonado pela Alemanha, paixão esta que hoje só se equivale ao ardor que tenho pela Seicho-No-Ie. Assim, é natural que, salvo um espasmo de brasilidade que tive em meados de 2002, minha torcida pelos alemães soa até natural. Até meu time europeu é o Bayern de Munique...
Mas, donnerwetter, o que explica essa argentinofobia? Afinal, nunca tivemos uma guerra séria com eles, eles não ganham nada com sua seleção principal há longos 17 anos, e sequer esticam três dedos para quantificar seus títulos mundiais, ao contrário de nossa mão espalmada.
Alguns diriam que é por causa do Maradona. Ora, um homem só, ameaçando ficar nu no Obelisco bonairense é motivo para tamanha ojeriza?
Outros diriam que é por conta da marra portenha. E quantas vezes nós, brasileiros, também somos marrentos? Reflexionem e reconciliem-se! Vamos ganhar essa copa, e no final, na classificação final, vamos ficar atrás deles, justamente DELES!!!
No fundo no fundo, essa conversa de "eu quero mais que os argentinos se lasquem" (vejam o apuro que tive ao escolher o mais ameno dos desejos...) é aquela velha história de Nietszche da moral do rebanho, o desejo inconsciente dos inferiores de quererem ferrar os superiores, esse ódio à excelência que permeia as raças inferiores.
Não, em nenhum momento insinuei que os argentinos são superiores a nós. Apenas dizer que, se nós perdemos ontem, ora, vamos esquecer os outros. Se os argentinos fossem campeões mundiais, sorte deles, mérito deles e, principalmente, (tremei pachecada!) COMPETÊNCIA DELES SIM! Se eles fossem campeões e não nós, como poderíamos afastar a pecha de marrentos deles? Teríamos que aturar o reinado deles por quatro anos, mas e daí? Isso não vai nos diminuir no futebol mundial nem uma hecatombe ocorreria. Ficar soltando fogos, espalhar piadinhas e coisas do gênero somente nos provaria o quanto somos inferiores em termos espirituais para reconhecermos a grandeza do outro, não em detrimento da nossa, mas em complemento da nossa própria grandeza. Lembram daquela história da Verdade Horizontal? Se tripudio do meu inimigo, como posso esperar outro comportamento dele? Sinceramente, é hora de parar com estas pataquadas alimentadas pela imprensa esportiva e até pela publicidade.
Em suma: Os argentinos são um povo maravilhoso SIM, com um nível de cultura superior a nossa SIM (dizem que só em Buenos Aires tem mais livrarias do que no Brasil inteiro, se for verdade, ah eu lá...), foram mais ricos e desenvolvidos que nós no passado SIM e que tem todo o lídimo direito de comemorarem se forem campeões SIM!
Mas, eis que veio a Alemanha sapecando 4 X 0 e el sueño acabó. Mas não dá nada, hermanos! A próxima Copa é aqui, e quem sabe o próximo Maracanazo não será de vocês? Mas terão que jogar muito! E esquecer essa dependência de Maradona e esta mania insistente de querer ser melhor do que nós e Pelé e etc. Não tentem nos superar, tentem apenas ser vocês, o que já é incomensurável!
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