"De nada adianta alguém viver temendo as doenças, pois isso não o impede de ficar doente. Pelo contrário, quem pensa que é propenso a resfriados e problemas intestinais e se agasalha demais ou toma cuidado exagerado com alimentos acaba enfraquecendo cada vez mais, apanha resfriado ou é acometido pela diarreia com frequência e passa a apresentar uma fisionomia pálida e um aspecto franzino. Já as pessoas que não vivem temendo as doenças e, mesmo no inverno, enfrentam o vento frio sem se agasalhar demais e trabalham com ânimo ou praticam esportes com grande entusiasmo, conseguem levar uma vida saudável.
O temor inibe a força, tanto no ser humano como nos animais. Quando um animal fraco se vê diante de um predador poderoso como o leão, perde a força de suas patas e não consegue fugir. O ser humano também, quando se apavora, fica com as pernas bambas. Antigamente, se um samurai ficava com as pernas bambas diante do adversário, era considerado poltrão e desdenhado pelos outros.
O princípio é o mesmo, qualquer que seja o 'inimigo' - pessoa, vírus, micróbio, calor, frio, poeira, pólen etc. -, é fundamental encará-lo sem temor. Algumas pessoas pensam que não ocorrerão conflitos se for incutido o temor na mente do povo. Mas há um equívoco nesse modo de pensar. O temor não impede a ocorrência de conflitos; um povo temeroso está sujeito a 'ser subjugado por um inimigo forte sem oferecer nenhuma resistência'. Tal povo é exatamente como um animal pequeno que fica paralisado diante do leão.
A pusilanimidade era o sentimento mais desprezado no tempo dos samurais. Hoje em dia, são consideradas 'pacificistas' as pessoas com a postura mental citada no parágrafo anterior. A verdadeira paz não é aquela em que um país se deixa controlar por outro, receando o conflito. A verdadeira paz é aquela em que as nações convivem em harmonia, cada qual mantendo sua autonomia e liberdade. Para estabelecer a verdadeira paz, é preciso não suscitar temor na mente das pessoas. É essencial eliminar o temor, divulgando a Verdade de que 'o homem é filho de Deus e, portanto, jamais morre'.
Quando a pessoa se conscientiza de que o homem é um ser divino, verdadeiramente livre e imortal, liberta-se de todos os temores, preenche-se de força vital, torna-se imune a doenças, deixa de recear fracassos e de se abalar com comentários mesquinhos dos outros. Assim, não haverá para essa pessoa inimigos em lugar algum, e ela viverá de modo realmente natural e livre. Não se prenderá aos incidentes do passado, fará julgamento correto em qualquer situação e vencerá na vida.
Se uma pessoa como essa se tornar governante de um país, ela será capaz de adotar uma linha políitca mais adequada e segura para o povo. Com certeza, não tomará atitude medrosa e subserviente, dizendo que, 'para não suscitar animosidade nos outros países, é melhor não termos nenhuma força de defesa'. Tal governante agirá com sabedoria e conseguirá adotar uma política de autodefesa perfeitamente natural e lógica, que pode ser resumida na expressão 'Quando chove, abrimos o guarda-chuva; quando o tempo está bom, não precisamos abrir o guarda-chuva'".
Capítulo essencialmente político este. Tem até uma velada crítica à política pacifista japonesa, que, digamos, fora imposta pelo governo norte-americano aos nipônicos através do artigo 6º ou 8º da Constituição do Japão, que não permitia ao governo japonês envolver-se com conflitos externos que não lhe diziam respeito. Mais tarde, ou foi no Iraque ou no Afeganistão, pela primeira vez em mais de meio século, soldados japoneses estavam em operação fora dos limites de seu país.
É sabido que em alguns trechos de literatura da SNI o Mestre era radicalmente contra o conceito ocidental de democracia, que privilegia o individualismo em detrimento do coletivismo. Coletivismo que, no Japão, não era sinônimo de socialismo, que o Mestre também tinha rematado pavor, muito em parte de seu confesso e escrachado materialismo. O coletivismo no Japão era muito mais baseado no consenso do que no socialismo. É todos terem um objetivo comum, o que não era sinônimo da Vontade Geral de Rousseau em seu Contrato Social, mas...
Olhando por outro prisma, o professor nos ensina que até mesmo as nações, sendo expressão máxima do coletivo nacional de um povo, podem, sim, viver de forma natural, e execrando as várias manifestações de temor, sejam elas oriundas de um inimigo externo ou interno.
Por fim, uma pequena curiosidade: no trecho, logo no início do capítulo, em que o professor Seicho fala de "enfrentar o vento frio", me lembrei de um dos trechos mais geniais de uma das músicas mais geniais do genial Raul Seixas, "Eu Nasci Há Dez Mil Anos", e que é a seguinte: "E quando todos praguejavam contra o frio, eu fiz a cama na varanda". Raulzito sintetizou com raro brilhantismo, assim, o que significa viver sem temor!
E para aqueles que provarem que estou mentindo, segue o link: http://www.youtube.com/watch?v=3j2x29Lymtc
PS.: Esta música merece um post especial. O que vem a ser "Eu nasci há dez mil anos atrás" senão a mesma declaração de Cristo de que "Antes que Abraão existisse eu sou"? Pensem bem...
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