domingo, 31 de janeiro de 2010

Palestra de 31.01.10 - A TREVA NÃO EXISTE ORIGINARIAMENTE

Treva é sinônimo de ausência de luz; ela não existe originalmente, mas parece que existe como algo temporário1. Por isso, pode ser dito que ela dá vida ao nada. Seja como for, o fato de o campo da luz ir crescendo é a luta, a criação do céu e da terra. Então, a luz vai avançando em relação à água que flui na escuridão, e apenas as regiões onde há a luz passam a existir verdadeiramente, e toda essa existência é autoexpansão de Deus, o Todo de tudo2. Quando observamos o mundo com este modo de viver, não seria inconveniente dizer que vivemos num mundo de lutas3. Pode-se afirmar que a “Vida” está sempre lutando para subjugar o “nada”. Por exemplo, também em nosso corpo a Vida está em constante luta, se considerarmos que o fenômeno como o de eliminar dejetos também é uma espécie de luta. Mas não o vemos de forma sanguinária como um combate, e sim como sendo um trabalho que vai eliminando as irrealidades, provocando ininterruptas ondas. Mesmo os fenômenos da diarreia e do crescimento são trabalhos que suscitam ondas ininterruptas e que vão empurrando para fora as irrealidades4.
A derrota do Japão, na Segunda Guerra Mundial, também pode ser considerada avanço da Vida para eliminar o militarismo errôneo5. Embora a providência de Deus, que é o avanço da Luz, o avanço da Vida, pareça ser algo mau por uns tempos, na verdade não mata, mas vivifica6.
Mesmo o metabolismo que ocorre em nosso corpo, elimina os dejetos que não têm vida, colocando no lugar substâncias que possuem nova vida. Entretanto, se parar de efetuar o trabalho de eliminar essas “ilusões”, deixando de excretar os “dejetos”, ocorrerá o acúmulo de células velhas que se deterioram, fazendo manifestar diversas doenças. Ou seja, ocorrem febre, fadiga ou infecção urinária. Entretanto, se ocorrer novamente o trabalho da vida que elimina a ilusão, poderá acontecer uma eliminação intensa de urina, um exantema7 ou outras erupções na pele, assim desintegrando a própria escuridão8.
Desse modo, sendo Deus o Todo de tudo e a Luz, afirmar que a luz luta contra a treva nada mais é do que uma expressão figurada, pois a treva não existe de verdade9. A treva é considerada como existente em nosso pensamento, mas ela não tem forma nem extensão10. Se alguém achar que a treva existe, poderá colocá-la numa caixa e medir sua espessura e seu comprimento, mas, na manhã seguinte, ao observá-la diante da luz, perceberá que nada existe. Apenas achamos que a treva existe devido ao nosso modo de pensar. Na verdade, a treva não existe. O exército da luz avança em direção a algo que não existe, e é natural que ele vença. A saúde vence a doença, a prosperidade vence a pobreza, e a harmonia sempre vence a desarmonia. Sendo que somente Deus e somente o Bem existem verdadeiramente, nada mais é que uma ilusão achar que o mal e a desarmonia existem. Tudo que possuímos – marido, esposa, filhos – e nós próprios somos propriedades de Deus, e nada existe que seja nosso: a isso se diz que “nada há que não seja criado por Deus”.

Do livro Utsukushiki Seikatsu (tit. prov. Uma Vida Harmoniosa e Bela), pp. 152-154, in Mundo Ideal, janeiro 2010, pgs. 26-27

1“Quando a luz deixa de se manifestar e de se impor, parece existir a treva. Quando a Vida deixa de se manifestar e de se impor, parece existir a doença, que não passa de uma 'treva'. Doença e treva são igualmente falsas existências” (Contínua Chuva de Néctar da Verdade, pg. 119)

2“Deus não empregou a matéria como base nem como meio na criação do mundo, fez do Espírito a substância e a força criadora. A matéria não possui forma definida. Ela é originalmente o nada, o vazio; não é existência positiva. Ela se assemelha à treva, que é o estado de ausência de luz. Treva é sinônimo de inexistência de luz e não possui força para sustentar positivamente a própria existência. Ela existe somente de modo passivo, negativo. Nos versículos acima, [Gênesis, 1, 2-3] essa existência negativa está expressa por palavras como abismo ou água. Por inspiração divina aprendemos que nossa existência é a luz que majestosamente avança sobre a treva e também a Vida que marcha sobre a morte. A frase 'O Espírito de Deus movia-se sobre as águas' significa que o Espírito de Deus, que é existência positiva (presença, realidade, luz, Vida, sabedoria) avança majestosa e triunfalmente sobre a existência negativa (ausência, falsidade, treva, morte, ilusão) representada pela água” (A Verdade da Vida, vol. 11, pg. 20-21)

3“Quando escrevi Shodo-E [Em Busca do Caminho Sagrado] já estava começando a deixar essa visão da Vida que o Sr. Kozu está defendendo e que é semelhante à visão da Vida do escritor Romain Rolland: 'Deus está sofrendo junto com o homem. Deus é uma vida que evolui através de lutas” - assim consta no seu vasto romance em dez partes Jean-Christophe, que lhe valeu o Prêmio Nobel de Literatura. Mas a vida que sofre junto com o homem, a vida que evolui através de lutas, é vida fenomênica e não é a Vida-Imagem Verdadeira; é a imagem falsa da Vida. Ela é a imagem distorcida que aparece quando a Imagem Verdadeira da Vida – na qual todos os seres são um – é encoberta pela ilusão chamada “eu isolado dos outros”. Na verdadeira Vida, ou seja, na Vida-Imagem Verdadeira, não há conflito, somente se favorecem uns aos outros, e dessa harmonia nasce uma beleza ainda mais sublime. É possível haver beleza sem oposição à feiúra; é possível haver beleza sem sombra, com luz apenas; é possível haver saúde que transcenda aquela que existe em oposição à doença” (A Verdade da Vida, vol. 16, pg. 105)

4Sr. Takimoto: “Dias atrás, almocei com alguns amigos e parece que o atum servido estava estragado, pois todos que participaram desse almoço ficaram intoxicados. Cada vez que eu vomitava ou evacuava pensava: 'Que bom! A força curativa interna está atuando em mim', 'Que bom! Vou ficar curado porque estou eliminando tudo que é ruim'. Nunca tive disenteria e vômito tão agradáveis (risos)” Mestre: “Em nosso corpo existe a 'sogra' que se chama 'força curativa', a qual se queixa de acordo com a nossa atitude mental ou física. Suas 'queixas' se manifestam em forma de febre, dor, vômito, diarreia etc. Portanto, se nos colocarmos no lugar dessa 'sogra' chamada 'força curativa interna', agradecermos a ela mentalizando 'Obrigado, por ter tanto cuidado com meu corpo', e aceitarmos com gratidão a febre, a dor, a diarreia etc, estas desaparecerão rapidamente” (A Verdade da Vida, vol. 15, pg. 53-55).

5“Durante a guerra, os militares daquele tempo induziam o povo a entoar uma canção de louvor à morte, tocando-o repetidamente em programas radiofônicos. Assim, por desconhecimento das leis da mente, utilizaram a força da palavra para conduzir o Japão à derrota. A canção dizia 'Aquele que combate no mar, na água morrerá', querendo dizer com isto que a perda da vida em prol da pátria era motivo de orgulho e satisfação.
Contrariando esse pensamento militar e torcendo pela vitória japonesa, apesar de considerá-la uma ação desintegradora da ilusão, o Mestre Taniguchi empregou a força da palavra e escreveu: 'A vitória será infalível; voltarão todos vivos, infalivelmente!'. Ele imprimiu estas palavras em cinquenta mil folhas de papel, para divulgá-las pelo país todo, mas, numericamente, os pensamentos derrotistas eram opressivamente maiores; e, impossibilitado de abafá-los, o Japão acabou provocando sua própria derrota” (Kamino Kusumoto, Buscando o Amor dos Pais, pg. 57-58)

6Segunda Declaração Iluminadora da Seicho-No-Ie: “Acreditamos que a lei da manifestação da Vida é o caminho do progredir infinito e acreditamos também que é imortal a Vida que se aloja em cada indivíduo” “Sendo assim, na ocasião mais oportuna para o desenvolvimento da alma de cada um de nós, aparecem, conforme a lei da criação da vida, sofrimentos, tristezas, doenças apropriadas, como também advém a morte do corpo. Mesmo que surja a dor ou a tristeza, mesmo que adoeçamos ou o corpo físico morra e se decomponha, a alma que se aloja nesse corpo não se desfaz, e ainda preserva as características (individualidade) de cada personalidade – eu como eu, você como você mesmo – para podermos prosseguir “caminhando rumo ao progredir infinito”. Quando conseguimos acreditar nissio, poderemos aceitar com gratidão qualquer sofrimento ou tristeza como instrumento para o nosso disciplinamento e progredir infinito, e passaremos a viver em estado de permanente gratidão” (A Verdade da Vida, vol. 1, pg. 32-33).

7Qualquer erupção cutânea (do grego exanthema, eflorescência).

8“No caso de pedirmos a Deus, através da Meditação Shinsokan, êxito naquilo que pretendemos fazer, muitas vezes não o conseguimos e, enquanto estamos decepcionados, recebemos algo bem melhor de uma outra direção. Isso se deve ao fato de a Sabedoria de Deus atuar num plano superior à nossa expectativa, sendo tal situação parte de um processo de autodesintegração da ilusão. Por exemplo, quando um doente pede a Deus que lhe dê saúde, pode acontecer de, repentinamente, começar a manifestar sintomas de piora da doença: ter febre alta, dores ou aumento de secreções. Porém, enquanto estiver se sentindo frustrado, achando que a Meditação Shinsokan não surtiu efeito, essa piora momentânea desaparecerá e ele recuperará rapidamente a saúde, tal como o bom tempo que segue a uma chuva repentina” (A Verdade da Vida, vol, 1, pg. 123)

9“Merece especial atenção o fato de que os opostos 'presença/ausência', 'falsidade/realidade', 'treva/luz', 'morte/vida' e 'ilusão/sabedoria' não são opostos verdadeiros. O que faz crer que sejam opostos é o modo de pensar errôneo do homem. Embora se diga que a 'presença' (o 'ser') se opõe à 'ausência' (o 'não ser'), não há como isto acontecer, pois uma delas é ausência; portanto, na verdade, a presença (o 'ser') é existência única, é existência absoluta. Da mesma maneira, 'treva', 'morte' e 'ilusão' são respectivamente ausência de luz, ausência de Vida e ausência de sabedoria; nada mais são que sinônimos do nada. Portanto, tudo que tem existência neste mundo é luz, é Vida, é sabedoria, e o oposto disso, por mais que aparente existir, na verdade, é o nada. Por conseguinte, não é difícil afirmar a 'presença' (o 'ser') diante da 'ausência' (o 'não ser'). À semelhança de uma 'luta de um só lutador' – na qual o lutador único sempre é o vencedor – , a Deus bastou dizer 'exista a luz', e a luz venceu as trevas” (A Verdade da Vida, vol. 11, pg. 21)

10“Considerando tais fatos, podemos entender que o que chamamos de mal não existe como substância, ou, antes, é projeção exterior da força de negação (sentimento de rejeição) que surgiu na mente de quem está avaliando. Sendo assim, à pergunta 'Onde está o mal?', podemos responder “Está dentro da mente humana” (...) “Sendo assim, deixamos o mal às soltas?”, indagará novamente o leitor. O que estou afirmando é que não existe uma substância chamada mal. O que não possui substância não pode ser objeto de combate. O que existe aí não passa de situação em que, ao colocarmos a 'régua' mental da medição do bem e do mal num fato ou pessoa, acusou valor negativo. É possível que, mudando a forma de medir, a 'régua' não acuse valor negativo (ou seja, não a reconhecemos como má) a mesma situação. E, assim, surge a possibilidade de ocorrer algo mágico como 'desaparecimento do mal através da mente'” (Masanobu Taniguchi, O Princípio do Relógio de Sol, pg. 32,35-36)

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