sábado, 12 de janeiro de 2019

Amor Severo? - Kanzeon Bosatsu Que o Diga!

Continuando com o tema, considere estes excertos logo na página 14 do referido volume:

"O amor não é algo doce. O que é doce é a concuspicência. O amor verdadeiro é algo muito severo. Quando deixar de ser severo, o amor servirá apenas de motivo para mimar e perverter o outro.
Entretanto, o amor não é apenas severidade. Aquele que, sem sentir amor, diz que ama com severidade só para disfarçar a própria frieza não passa de um abominável vigarista (...)
Aquele que abandona a si próprio é severo e, ao mesmo tempo, sente que eu e o outro são um, anulando-se o ego - eis o que é amor."

"Bom", perguntaria você, "a severidade do amor está diretamente ligada à questão do ego?" Sim. É o que dá a entender aqui, apesar de um tanto quanto contraditório (mas o próprio Mestre, na página 72, fala que se a Seicho-No-Ie "não abarcar a contradição, não será grande estrada da liberdade absoluta"... tenso, não?
Mas analisemos aqui uma coisa: qual o conceito de ego para um ocidental, em que praticamente é a base da sua autoestima, e um oriental? O que um oriental entenderia por "anular totalmente o ego"? Como se pode exigir isso do povo oriental, um povo tão introspectivo, tão "na dele"? E por que usar desse "amor severo" para ensinar o verdadeiro amor a um oriental?

Tá ficando pior, né? Uma pergunta atrás da outra. Mas seu bom amigo Leojisso é brasileiro, ocidental, não desiste nunca e acredita sempre na vitória infalível. Vamos continuar com a pesquisa, e agora colocando Kanzeon Bosatsu no meio (tá ficando cada vez pior...)
Considere o seguinte trecho, nas páginas 119 e 120 do mesmo volume:

Sou Yaksa, mas podem me chamar de Kanzeon Bosatsu!
"Em tudo, se ficarmos demasiadamente presos a um raciocínio, pensando obstinadamente 'Isso deve ser assim', acabaremos ficando indignados até em relação a Kanzeon Bosatsu. Se uma pessoa acredita que Kanzeon Bosatsu tem uma feição de extrema bondade, por ser ela a divindade budista da grande misericórdia, e vir a se deparar com ela bem no momento em que ela estiver com a feição assustadora, semelhante à de Yaksa (divindade da Índia), pensará 'Não era isso que eu esperava. Até hoje ouvi dizer que Kanzeon Bosatsu é a deusa da misericórdia, mas fui enganado' e se indignará com ela. Quem está totalmente errada, nesse caso, é a pessoa que ficou indignada. Kanzeon Bosatsu é. originalmente, a divindade da misericórdia, mas manifesta-se em 33 imagens diferentes, de acordo com a necessidade. Transforma-se em 33 aspectos diferentes para salvar o próximo. Então, é um erro da pessoa não perceber isso e achar que foi enganada por ela, porque se manifestou com a feição de Yaksa, quando deveria ser a própria encarnação da misericórdia" (grifamos)

Sim, senhoras e senhores: o amor severo é uma das facetas dela, Kankan (desculpem-me se vocês não tem a intimidade que eu tenho com ela de chamá-la pelo apelido). E não deixa de ser amor. Amor para salvar o próximo. Como um tapa no bumbum que a criança saindo do útero da mãe leva para estimular a respiração (e anuviar um pouco o instinto sádico do obstetra - aposta minha!).
Assim, podemos concluir que o tal amor severo é uma das manifestações de amor de Kanzeon Bosatsu, razão pela qual não devemos nos "indignar" como a pessoa do exemplo do Mestre, e sim aceitar - por mais bizarro que possa parecer - a reprimenda com gratidão.
Duvidam? Leiam o que fala 365 Itens para Alcançar o Ideal, vol. 1, pg. 69-70

"O ambiente ou a circunstância em que vivemos, a maneira com que nos tratam as pessoas ao nosso redor, tudo, enfim, é uma resposta de Deus dirigida a nós. Por isso, você não deve guardar rancor nem odiar as pessoas que o tratam com aspereza. Tudo isso é a resposta que Deus está lhe dirigindo, e, ao mesmo tempo, é a nota dada a você. O ambiente e as circunstâncias que se apresentam a você são como uma calculadora automática e mostram a somatória de seus pensamentos e suas ações. Com a mente serena, veja o resultado apresentado por essa 'calculadora' e corrija seus pensamentos incorretos e suas condutas errôneas(...)" (grifamos)


Agora, comparem este trecho com o de pg. 91 do mesmo volume 1:

"A 'força para suportar' (as ofensas e insultos) aumenta quando há amor e desejo de salvar o próximo ou fazer manifestar a Imagem Verdadeira do outro. Devemos não apenas suportar, mas orar para que se manifeste a perfeita Imagem Verdadeira que existe por trás das palavras ou atitudes grosseiras, mentalizando da seguinte forma: 'Ele é filho de Deus. Na sua Imagem Verdadeira, ele não é má pessoa. Ele profere palavras grosseiras porque com isso seus carmas passados que superficialmente encobrem sua Imagem Verdadeira, como a cutícula do fruto da castanha, vão se desprendendo um a um e purificando-o; e, quando se desprenderem todos os carmas, manifestar-se-á sua Imagem Verdadeira perfeita'".

Então é uma via de mão dupla: por um lado devemos agradecer pelo fato dos nossos atos serem purificados como um feedback divino, e por outro, devemos agradecer a quem nos ofendeu, por servirmos de purificador dos carmas dele próprio.
Enfim, tudo é gratidão e tudo é purificação, escondido dentro de um... amor severo!

Obs.: Estimado Supremo Presidente Masanobu Taniguchi: conheço e até entendo os seus esforços para se substituir o nome "Kanzeon Bosatsu" (ou Kannon, Kwan Yin, Avalokitesvara, dependendo da tradição) pelo asséptico e assexuado "Bodisatva que Reflete os Sons do Mundo". Mas emprego Kanzeon Bosatsu aqui não só por constar no meu volume 36, como também (e aí é preferência minha mesmo) acho mais simpático ainda manter o nome tal como consta. Quem sabe no futuro acabo me acostumando com a nova denominação? Espero sinceramente que me perdoe! E pode ficar tranquilo: este blog não é oficial!


 

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