sábado, 3 de abril de 2010

Malhar o Judas

Bom fim de sábado a todos! Hoje, sábado de aleluia, é dia de malhar o Judas. Em seichonoiês, basicamente é dia de uma bela purificação da mente, digamos, com um pouco de exagero, que seria o Ooharai da Cristandade, que vale apenas hoje.
Pobre boneco. Surrá-lo parece aliviar a humanidade de todos os seus problemas, aliás, cheguei a comentar tal fato com minha augusta noiva, a saber, a necessidade que a choldra, não importa a época ou a civilização, tem de ver sangue... isso vem desde Roma, Cristo crucificado foi o auê que os evangelistas nos legaram, passemos pela Inquisição e seus julgamentos e condenações em praça pública... não é à toa que Deus legou, em algum canto do Pentateuco que não me recordo hoje, a utilíssima e necessária instituição do bode expiatório (os adjetivos são discutíveis do ponto de vista do caprino...).
Essa necessidade de sangue-a-qualquer-custo repete-se neste ritual, e geralmente é precedido de um ato que contraria violentamente os sentimentos de pundonor, honra, dignidade ou coisa-que-o-valha de uma dada coletividade. Neste caso, a morte, o assassinato ou a crucificação de Cristo. Aí as pessoas procuram culpados. Romanos, judeus? Nada disso, é muito simples localizá-lo no Traidor Mor da História, Judas Iscariotes, a quem historiadores modernos tentam, não sei se com sucesso ou não, reabilitar-lhe perante a História dita oficial, dando-lhe, pasmem, um Evangelho como cereja no bolo um tanto quanto indigesto...
E tome surrar o boneco, que muitas vezes também é identificado com pessoas públicas defenestradas do convívio social, como o Alexandre Nardoni. Confesso que não gosto muito disso.
Fica aqui um pequeno questionamento: Judas, apesar de arrependido, merece perdão? Quando era criança pequena lá em Barbacena ouvi falar que Jesus o perdoou. Tempos mais tardes soube por fidedigna fonte espírita que Jesus, ao morrer, procurou Judas para o consolar. Não sei. O que sei é que, se como o Nazareno mesmo falou da necessidade de se perdoar setenta vezes sete, Judas não estaria fora desta matemática, até porque a impressão que dá no contexto geral do Evangelho, era a de que tudo estava escrito. Maktub! Afinal de contas, alguém tinha de fazer o papel sujo...

4 comentários:

  1. E como seria a história se Judas não tivesse "traido" Jesus? Se Jesus tivesse uma vida e morte "normal", os discípulos levariam adiante sua mensagem? Tudo indica que se Jesus não tivesse ressuscitado, os discípulos não continuariam pregando, já que todos fugiram na crucificação, e custaram a crer quando Jesus apareceu.Ora, Judas foi fiel até o fim, pois aceitou o papel de traidor e maldito para que se cumprisse o que estava escrito(dito pela própria boca de Jesus). Talvez se os discípulos tivessem mais fé,não haveria a necessidade de toda essa tragédia, pois levariam a mensagem adiante por amor e fé e não porque acreditaram nela somente depois da ressurreição.

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  2. Quanto à vida e morte "normal", Buda também o teve, morreu de causas naturais aos 80 anos e mesmo assim o budismo continua, firme e forte, nos tempos de hoje. Assim, a questão insolúvel seria a qualidade dos discípulos de Cristo.
    Acho que, mesmo assim, se os discípulos tivessem mais fé, ainda aconteceria aquela coisa toda com Cristo, pois era uma profecia que já estava feita há séculos e não dependeria da fé ou não deles para ser cumprida.
    O Mestre Taniguchi, escrevendo sobre Cristo em um de seus livros, falou algo como se Cristo mesmo tivesse procurado toda essa tragédia para si mesmo. Opinião que, para muitos da cristandade, soaria como heresia, mas a liberdade que o Mestre tem de interpretar as obras cristãs confere a este uma certa "autoridade" em escrever coisas que fogem ao lugar comum cristão católico-evangélico.
    Judas seguiu seu destino, como tantos outros. Pedro, que na minha opinião fora o mais formidável dos apóstolos, justamente por ser a mais comum das criaturas, também.
    Mas, mesmo assim, o comentário é válido.

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  3. Se foi preciso uma crucificação é porque o aquele povo na época não estava pronto, como os discípulos de Buda, para aceitar uma "vida e morte normal".

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  4. Concordo contigo, lembra-se do que te falei, e cheguei a comentar neste mesmo post sobre a "sanha da humanidade por sangue"? Parece que estamos localizando tal fenômeno na civilização ocidental, ou pelo menos com influência judaica (lembre-se de que o bode expiatório é criação mosaica). Na oriental nos tempos de Buda, pelo menos, tal fenômeno, se existisse, era muito, muito mais ameno.

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