Bem amigos, esta semana comecei a retomar o meu ciclo normal de leituras, iniciando pelo livro título deste post, "A Parte Divina do Cérebro", de Matthew Alper, que pretende, em suas três centenas de páginas, nos convencer de que a crença num poder superior nada mais é do que uma artimanha do sistema evolutivo para nos convencer a vivermos a nossa vida sem temor da morte, já que somos a única espécie dentre os viventes e semoventes que têm a noção pré-determinada da morte. Pelo menos foi isso que entendi da apresentação do mesmo.
Bom, eu ainda estou lá pela página 79 ou 80, mas, pelo que li até o momento posso fazer meus pequenos, mas incisivos, comentários...
1. Primeiramente, muito embora o autor não confirme, ele parece ser ateu. Mas seu livro é bem escrito, e de uma honestidade comovente. Honestidade porque o livro parece ser o ápice da busca dele pelo algo divino que está entre nós, e se ele achou este algo divino dentro da matéria, e com a explicação que resumi acima, deverei ao menos respeitar e conhecer este algo, muito embora tenha algumas objeções que seguirei abaixo...
2. Eu ainda não cheguei nesta parte, mais específica, mas, se ele fala na ideia de Deus como uma artimanha do nosso sistema evolutivo, o que isso nos parece? Que, se não existe Deus, existe um Sistema Evolutivo por trás disso, e se há um Sistema Evolutivo por trás disso, existe Deus, nem que Ele se chame Sistema Evolutivo...
3. Além do que, este Sistema Evolutivo (sim, elevemos esta misteriosa entidade schopenhaueriana ao nível "divino") em nada se parece com a imagem do Deus de Bondade, ou, em seichonoiês, no Deus da Verdade, do Bem e do Belo... e, mais, num Deus digno do Velho Testamento, que pouco se importa com a vontade individual de cada ser, e sim, de sua evolução. Evolução e mais nada...
4. Uma Evolução aética, schopenhaueriana, a Vontade da Vida que o filósofo alemão tanto falava e que o Mestre Masaharu Taniguchi insuflou com um conteúdo ético, adjetivando-a de A Grande Vida...
5. Mas voltemos ao texto... Se este Sistema Evolutivo, utilizando do método da Seleção Natural, resolveu "inventar" a figura de um Deus para a única espécie que sabe de antemão da morte (o que, por si só, já é um erro, pois os elefantes também tem tal ciência, tanto que eles sofrem com a perda de um de sua grei, realizando até funerais para os falecidos paquidermes), nos livrando assim da perplexidade de uma vida sem sentido e garantindo uma vida menos sofrida, existencialmente falando, até nossa morte, ou o retorno ao nada, então...
6. Então este Sistema Evolutivo nada mais vem a ser do que um grande manipulador de nossas consciências, voltado somente para os seus interesses e nada mais. E nós aqui, vivemos, choramos, rimos, experimentamos as mais distintas e variadas experiências para um belo dia a morte nos colher e puf!
7. Bingo, descobrimos o nada! E o nada arquitetado pelo Sistema Evolutivo... com conteúdo auto-enganador, e vou explicar o porquê...
8. A tal da seleção natural escolhe os mais fortes e capazes em detrimento dos mais fracos e incapazes. Explico. Girafas com pescoço maior e que tendem a se alimentar melhor das copas de árvores mais frondosas têm mais chances de sobreviver do que suas companheiras mais atarracadas. Assim, o pescoço maior é uma vantagem, até certo ponto consciente, de que o animal que a possui pode, efetivamente, se "vangloriar" para continuar sobrevivendo.
9. E quanto à crença em Deus? É algo que também o homem pode se vangloriar para continuar sobrevivendo, mas com uma diferença: ao contrário do pescoço da girafa, ele não existiria objetivamente. Assim, o tal do Sistema Evolutivo promove o auto-engano, ou seja, a ilusão. Promovendo a ilusão, resta-nos, literalmente, cair na real e nos indagar: o que diabos estamos fazendo aqui, pelo amor de um inexistente Deus?
9. Sim, senhores, fomos durante milênios enganados por um tal de Sistema Evolutivo que queria apenas nossas vidas e esforços para se perpetuar sobre a terra, pouco se importando com nossas dores. Que Deus mais canalha que nos foram arrumar? Sim, porque Deus, ao contrário do que Alper fala, transcendeu a mera palavra escrita, Ele existe e se chama Sistema Evolutivo. E, a julgar pelos até agora conhecidos únicos animais que tem conhecimento da morte, ele bem deve ser os cornos (ou melhor, os marfins) de Ganesha!!!
10. Apenas para terminar: sabiam os senhores que o próximo passo que o Sistema Evolutivo, o Deus com cara de Ganesha, pretende dar é sumir com o nosso dedo mindinho do pé por ser algo da mais pura inutilidade? Ele nos consultou sobre isso? Nada! Apenas vai sumir com ele, e no futuro teremos apenas 18 dedos... pensando bem, ainda bem que inventaram o computador e sua forma de aproveitar todos os dedos das mãos para o teclado, pois, já pensaram? O Grande Deus Sistema Evolutivo Ganesha achar que o nosso dedo mindinho da mão também não tenha a menor função no ser humano? Onde, meu Deus, onde eu conseguiria digitar o A e o Ç...?
11. Resumindo, por mais bela que seja a busca de Alper, se a história do livro convergir para o que até agora narrei, ele não é ateu, apenas considera como seu Deus um Sistema Evolutivo tão canalha e utilitarista que usa a figura de algo inexistente para nos convencer que é existente e transformar nossas vidas em vidas menos ordinárias...
12. Mesmo assim, pelas poucas páginas que li, achei-o mais sincero e humilde que Dawkins, Onfray e Hitchens...
13. Ou seja, queridos, mais um livro que até tenta, mas não me convence a dizer que Deus não existe. Esse até tenta, mas cai numa armadilha engendrada por ele mesmo, e nos apresenta um Deus mais canalha do que nossa vã e benevolente imaginação possa acreditar...
15. E isso que não falei do paradoxo que ele utiliza entre a certeza da ciência e a incerteza de acreditarmos em nossos cinco sentidos...
16. Mas não dá nada, amigos ateus! Vocês ainda têm algumas boas chances. Na minha estante esperam impacientemente "O Futuro de Uma Ilusão" e "O Mal-Estar na Cultura", dois livros de Freud de cabeceira para qualquer ateu! Será que finalmente, Freud explica de maneira convincente a inexistência de Deus? Não, acho que nesse caso nem Freud explica...