Gente, como eu estava demorando para postar mais um SNI Hits, tome Raulzito de novo na veia, com este óbvio clássico da MPB. Porque óbvio? Ora, pela simples e óbvia razão de que a música nos ensina (ou nos lembra, seria melhor afirmar) a nossa imortalidade. Ou vocês acham que ser Highlander é característica apenas do velhinho sentado na calçada com uma cuia de esmola e uma viola na mão? Vamos à letra que vocês vão entender...
"Um dia, numa rua da cidade, eu vi um velhinho sentado na calçada
Com uma cuia de esmola e uma viola na mão
O povo parou pra ouvir, ele agradeceu as moedas
E cantou essa música, que contava uma história
Que era mais ou menos assim:
Eu nasci há dez mil anos atrás
e não tem nada nesse mundo que eu não saiba demais (2x)
Eu vi Cristo ser crucificado
O amor nascer e ser assassinado
Eu vi as bruxas pegando fogo pra pagarem seus pecados,
Eu vi,
Eu vi Moisés cruzar o mar vermelho
Vi Maomé cair na terra de joelhos
Eu vi Pedro negar Cristo por três vezes diante do espelho
Eu vi, (1)
Eu nasci(eu nasci)
Há dez mil anos atrás(eu nasci há dez mil anos)
E não tem nada nesse mundo que eu não saiba demais (2x)
Eu vi as velas se acenderem para o Papa
Vi Babilônia ser riscada do mapa
Vi conde Drácula sugando o sangue novo
e se escondendo atrás da capa
Eu vi,
Eu vi a arca de Noé cruzar os mares
Vi Salomão cantar seus salmos pelos ares
Eu vi Zumbi fugir com os negros pra floresta
pro quilombo dos palmares
Eu vi,
Eu nasci(eu nasci)
Há dez mil anos atrás(eu nasci há dez mil anos)
E não tem nada nesse mundo que eu não saiba demais (2x)
Eu vi o sangue que corria da montanha
quando Hitler chamou toda a Alemanha
Vi o soldado que sonhava com a amada numa cama de campanha
Eu li,
Eu li os simbolos sagrados de Umbanda
Eu fui criança pra poder dançar ciranda (2)
E, quando todos praguejavam contra o frio,eu fiz a cama na varanda (3)
Eu nasci(eu nasci)
Há dez mil anos atrás(eu nasci há dez mil anos atrás)
E não tem nada nesse mundo que eu não saiba demais
não, não porque
Eu nasci(eu nasci)
Há dez mil anos atrás(eu nasci há dez mil anos atrás)
E não tem nada nesse mundo que eu não saiba demais
Não, não
Eu tava junto com os macacos na caverna (4)
Eu bebi vinho com as mulheres na taberna (5)
E quando a pedra despencou da ribanceira
Eu também quebrei e perna (6)
Eu também,
Eu fui testemunha do amor de Rapunzel
Eu vi a estrela de Davi brilhar no céu
E praquele que provar que eu tou mentindo
eu tiro o meu chapéu (7)
(eu nasci)
Eu nasci(há dez mil anos atrás)
Eu nasci há dez mil anos atrás(e não tem nada nesse mundo que eu não saiba demais)"
E o clip no You Tube: http://www.youtube.com/watch?v=3j2x29Lymtc
Vamos aos comentários?
(1) Neste primeiro trecho, reparem que, com a exceção de Moisés e Maomé, talvez, o restante dos relatos se refere a tristes momentos das histórias das religiões, inclusive quando nós mesmos vacilamos em nossa fé, ou vocês acham sinceramente que somente Pedro negou seu líder diante do espelho, ou seja, numa análise sincera?
(2) Apesar de tudo, ainda tivemos tempo em nossa imortalidade para sermos puras crianças...
(3) Esta frase é sensacional, é um dos meus versos preferidos na MPB: e, para nós, mostra que em determinados momentos, nós suplantamos o senso comum, adotando posições distintas da maioria das pessoas...
(4) estar junto com os macacos na caverna: claro, no início de sua evolução!
(5) bebeu vinho: claro, em um de suas encarnações você bem poderia estar num lugar destes!
(6) A pedra que despencou da ribanceira: sim, você também, num determinado momento, deve ter se rendido ao inconsciente coletivo e também ter quebrado a perna quando a pedra despencou!
(7) E quem teria semelhante coragem de desafiá-lo?
A música nos remete a um fato simples e amiúde esquecido: nossa vida não começou no nosso nascimento. Ele é apenas um dos (vários) pontos de partida do nosso aprendizado como filhos de Deus. Tal como crianças, nascemos na ignorância e vamos aprendendo determinadas lições ao longo do tempo e nos educando em nossa espiritualidade até o ponto em que possamos ser mais evoluídos, como seres divinos. E isso demanda tempo, afinal de contas, eu, você, o seu vizinho do lado, o macaco na caverna, Hitler, as mulheres na taverna, todos somos aprendizes, crianças espirituais ainda...
O que demonstra que nossa evolução é como a anistia no Brasil: lenta, gradual e segura!
Isso explica aquela célebre frase de Cristo: Antes que Abraão existisse eu já era. Não só Ele. Eu, você, todos nós já existíamos e todos nós já conhecíamos a herança cultural que a música lista, antes mesmo de Abraão. Talvez, contemporâneos de Adão... Somos, assim, imortais, condenados à essa feliz imortalidade.
Agora, eu só queria uma prova de que eu estivesse mentindo!
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