Estou lendo um livro de uma monja budista, Shundo Aoyama Rôshi uma série de contos, assaz interessantes, chamado "Para Uma Pessoa Bonita". Dentre os vários trechos bonitos que li, um me chamou mais a atenção, e que passo a dividir com os amigos agora, às pgs. 24-25:
"Amar
Certa vez dei de presente a uma Mestra uma lembrança que havia escolhido com cuidado durante uma viagem, esperando que ela se alegrasse. Eram folhas de papel colorido. Ela me surpreendeu, dizendo :
'Na verdade, isto não serve para mim, mas o aceito porque poderá servir para outra pessoa'.
'Já que vai dá-lo a outra pessoa, eu nem deveria lhe presentear', falei sem pensar.
Naquele instante, percebi que eu era incapaz de dar sem reservas. Aí estava eu, expondo totalmente meu lado feio e desagradável, apegada não só às minhas coisas, mas também àquilo que não era nem meu. Nem soube ficar satisfeita por ela o ter aceitado e não fui capaz de dizer: 'é todo seu, faça como achar melhor: dê para alguém, passe adiante'.
Assim que percebi isso, juntei as palmas e agradeci, pensando: 'Obrigada. Se não tivesse estudado Budismo, não teria nunca reconhecido meu apego à posse. Sou mesmo bem-aventurada'. O poeta indiano Tagore diz em um de seus cantos: 'Que meu amor não seja um fardo para você. Amo-a porque quero.'
Além de ser capaz de amar e dar incondicionalmente, Tagore era tão sensível a ponto de cuidar para que seu amor não fosse um peso para sua amada. Enrubesci. O ponto que o coração do grande poeta alcançava é onde o meu ainda não havia chegado. Que vergonha!"
Legal, né? Algumas considerações...
1. Reparem o destempero da monja fazendo manha com o desprezo (também condenável) de sua Mestra. Depois a gente acha que eles seriam mais perfeitos do que nós, que nada, se estamos todos aqui, é para aprender. Aprender e apreender.
2. Notem logo depois a análise que ela fez da posse e do ego. Brilhante!
3. A melhor parte: o agradecimento ao budismo. O que seria uma ocasião para ser uma tortura mental, do tipo "tenho que me aperfeiçoar mais..." vira um momento de gratidão, de reconhecimento pelo que o conhecimento do budismo fez ela entender este arroubo de egoísmo. Isto é transmutar, quebrar paradigmas, mudar valores, é a aplicação do princípio do Relógio de Sol, em outras palavras!
E vocês, gostaram? Aguardo comentários!
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