PALESTRA – A VERDADE VOL. 8 - PG. 88-89
Trabalho não é sofrimento
Não há como realizar um bom trabalho ou ter um bom rendimento pensando: “Será que esta empresa não vai falir?”, “Se a empresa quebrar, como vou sustentar a família?”, “Talvez seja melhor mudar de emprego agora, para garantir meu futuro”, etc. Quem trabalha tem a obrigação e o poder de manter a mente alegre. Deus não criou o trabalho como sofrimento; portanto, é natural que o próprio fato de trabalhar constitua alegria. Se a pessoa passa a sentir o trabalho como sofrimento, é porque ela vende sua força de trabalho, e isso significa vender seu próprio corpo. O corpo carnal vendido torna-se um corpo escravo; assim, é natural que o trabalho passe a ser sentido como sofrimento. Por mais cara que seja, a vida vendida é uma vida escrava.
1. As duas visões do trabalho
Este trecho apresenta duas visões do trabalho, o trabalho sobre o ponto de vista materialista e o trabalho sobre o ponto de vista espiritualista. Qual a diferença entre estes pontos de vista?
2.A visão materialista do trabalho
“Não há como realizar um bom trabalho ou ter um bom rendimento pensando: “Será que esta empresa não vai falir?”, “Se a empresa quebrar, como vou sustentar a família?”, “Talvez seja melhor mudar de emprego agora, para garantir meu futuro”, etc. “
2.1. Etimologia da palavra “trabalho”:
O “Dicionário Etimológico Resumido” de Antenor Nascentes, nos dá a etimologia da palavra “trabalho”, em sua página 740 (edição de 1966), que denota uma visão fortemente materialista. Leiamos:
Trabalhar. Do lat. Vulg. *tripaliare, “martirizar com o tripalium”. Da ideia de “sofrer”, passou à de “esforçar-se, trabalhar”. Suplantou laborare e operare. Tripalium era instrumento de tortura, composto de três paus (tres “três” e palu “pau”), destinado a sujeitar bois e cavalos que não se deixavam ferrar. A ideia de “sofrimento” ainda está na expressão “trabalho de parto”. Deve ter havido uma forma intermediária *trebalhar (cf. Trepalium em decisões dos concílios de Auxerre e Macon), prov. Trebalhar, cat. Treballar, alto aragonês treballar.
No Japão do Mestre Masaharu Taniguchi, o conceito de trabalho também é semelhante. Trabalhar, em japonês, significa hataraku, que, na obra “Minhas Orações”, na pg. 166, significa “dar conforto ao próximo”. Analisando-se o ideograma de “trabalho” em japonês, destacamos as seguintes partes:
O ideograma hataraku em japonês subdivide-se em três ideogramas, da direita para a esquerda: hito pessoa; kasaneru, pesado, e tikara, força. Bem literalmente, pessoa fazendo força pesada. Isso denota a visão materialista do trabalho, mesmo numa sociedade tão culturalmente distinta da ocidental, como a japonesa.
2.3. O trabalho no inconsciente coletivo
Algumas frases ou ditos espirituosos viraram comunidades no Orkut, tendo vários membros. Os mesmos expressam a visão atual do trabalho. Tomemos alguns exemplos:
Comunidades no Orkut (vistos em 19.08.10)
“Eu Detesto Segunda-feira: 783.022 participantes
“Trabalho não é ruim, ruim é ter de trabalhar” : 63.308 parrticipantes
“Odeio Segunda-feira”: 25.939 participantes
“Droga! Amanhã é Segunda-Feira”: 22.789 participantes
“Segunda-Feira não devia existir”: 14.892 participantes
“Hoje é Segunda-feira 13”: 1.992 participantes
2.4. Concepção marxista sobre o trabalho: Por fim, segundo o marxismo, o trabalho é o campo de batalha entre duas classes irreversivelmente antagônicas, a saber: a burguesia e o proleteriado. Assim, lemos no Manifesto Comunista de 1848, de Karl Marx e Friedrich Engels:
“A história de todas as sociedades que existiram até hoje é a história da luta de classes. Homem livre e escravo, patrício e plebeu, barão e servo da gleba, membro da corporação e aprendiz, resumindo, opressor e oprimido, estiveram em constante oposição uns contra os outros; conduziram uma luta ininterrupta, aberta ou disfarçada, uma luta que por vezes terminou na transformação revolucionária da sociedade inteira, ou então com a ruína comum das clases em lutas (...) A nossa época, a época da burguesia, caracteriza-se por ter simplificado os antagonismos de classe. A sociedade cada vez mais se divide em dois grandes campos inimigos, em duas grandes classes que se enfrentam diretamente: burguesia e proletariado (...) Ela afogou nas águas geladas do cálculo os sagrados temores do fervor religioso, da exaltação cavalheiresca e da melancolia pequeno-burguesa. Fez da dignidade pessoal uma ilusão e, no lugar das liberdades garantidas, gratuitas e plenamente adquiridas, colocou apenas a inconsciente liberdade de comércio. Em uma palavra, substituiu a exploração velada por ilusões religiosas e políticas pela exploração fria, direta e aberta. A burguesia despojou de sua auréola todas as atividades até então tidas como veneráveis e encaradas com religioso temor. Transformou em trabalhadores assalariados o médico, o advogado, o padre, o poeta e o cientista.”
3. A Visão Espiritualista do Trabalho
“Quem trabalha tem a obrigação e o poder de manter a mente alegre. Deus não criou o trabalho como sofrimento; portanto, é natural que o próprio fato de trabalhar constitua alegria.”
O trabalho, visto pelo prisma espiritualista, é resumido em uma única frase: Proporcionar o bem ao maior número possível de pessoas. Não por acaso, este é o princípio da prosperidade da Seicho-No-Ie, ou seja, o “Dá e Receberás”, como exposto no prefácio da “Chave da Provisão Infinita”: “Hoje, o mundo empresarial do Japão sofre as consequências da crise econômica. Ocorre isso porque os empresários disputam com a mente que usurpa, achando que sua empresa prosperará se vencer o concorrente. Entretanto, obtém-se a prosperidade perene ao colocar em prática a lei 'Dai e ser-vos-á dado'” (pg. 7).
3.1. A profissão serve para dar uma contribuição à humanidade e para aprimoramento pessoal
Não se deve procurar uma profissão pensando apenas em ganhar dinheiro. A finalidade da profissão é: (1) concretizar o amor de Deus, ou seja, contribuir para a felicidade da humanidade; (2) manifestar a capacidade latente e desenvolvê-la, realizar a auto-educação, cultivar a capacidade de ficar atento a tudo, sem esmorecer diante das dificuldades, conhecer a alegria de contribuir para o bem-estar do próximo e formar uma personalidade ampla e elevada.
A remuneração em dinheiro é apenas um benefício concomitante do processo de aprimoramento pessoal, e não o objetivo principal da profissão. Por maior que seja o valor da remuneração, se a pessoa oferece seu labor com o único objetivo de ganhar dinheiro e não leva uma vida de dedicação ao próximo, está se vendendo e, portanto, não diferec daquelas que praticam a prostituição. Lamentavelmente, muitas pessoas só pensam no valor da remuneração, não conseguem captar a essência da profissão, que é a oportunidade de auto-aprimoramento, e vivem buscando o aumento salarial. Com esse objetivo, incitam os companheiros à luta ou são instigados pelos agitadores e, tornando-se militantes ferozes cheios de ódio, agem de modo a destruir a própria dignidade.
3.2. O trabalho é obra de Deus
“No princípio, Deus criou o céu e a terra” - certamente você já teve oportunidade de ler essas palavras, que constam na Bíblia, no livro do Gênesis. Este mundo em que vivemos surgiu a partir do ato de criar. A verdadeira natureza da nossa Vida consiste, nada mais nada menos, na força de criar ou, em outras palavras, na capacidade de trabalhar. Realizar um trabalho, criar alguma coisa, produzir alguma coisa – isso é obra da Vida, é obra de Deus. Cristo também disse: “Meu Pai trabalha até agora”. Portanto, leitor, trabalhemos nós também! O nosso caminho está unicamente no trabalho. Odiar o trabalho é o mesmo que odiar o próprio fato de viver. Em verdade, trabalhar ou criar é permitir que a Vida siga o seu próprio caminho.
3.3. Por que o trabalho é sagrado?
Qualquer trabalho é sagrado, pois é a expressão da Vida de Deus. Podemos compreender a natureza sagrada do trabalho somente quando admitimos a existência de Deus e reconhecemos o trabalho como Sua auto-expressão. Se o homem fosse simples matéria, e o trabalho não passasse de automatismo de um equipamento material, não haveria nada que fundamentasse a afirmação de que o trabalho é sagrado. Do materialismo não é possível surgir uma ideologia que valorize o trabalho e o trabalhador. “Trabalhadores do mundo inteiro, abandonem o materialismo!” Somente por meio dessa exortação é que conseguiremos suscitar nos trabalhadores a consciência de seu valor e dignidade. Às vezes, o trabalho se torna penoso e desagradável, e provoca nos homem uma fadiga excessiva. Na verdade, não é o trabalho em si a causa disso, e sim a aversão ao trabalho, provocada pelas ideias e sentimentos errôneos a respeito do trabalho. Mesmo que seja pouco, o trabalho feito contra a vontade é cansativo.
3.4. Nona atitude mental que afasta a prosperidade: trabalhar sempre em benefício próprio
Pensar em si mesmo é puro egoísmo. O sentimento de egoísmo rejeita a provisão infinita e se distancia da força da prosperidade que é Deus. Para que possamos sintonizar e receber a força da prosperidade, primeiramente, a nossa mente deve estar sintonizada com o desejo de grande número de pessoas. Se nós desejarmos realizar algo para a felicidade da comunidade, poderemos contar com a cooperação do subconsciente de toda a humanidade, pois estaremos em sintonia com Deus e teremos inteiro apoio dEle. Por isso, um desejo dessa natureza será infalivelmente concretizado. Mas, se permitirmos que nesse desejo se infiltrem ambições egoísticas, ele se tornará impuro, deixaremos de receber o apoio do subconsciente da humanidade, não entraremos em harmon com o grande Amor de Deus, e consequentemente não poderemos concretizar esse desejo. Faça algum trabalho, mesmo que seja insignificante, mas que seja útil e que beneficie direta ou indiretamente alguém, mesmo não sendo remunerado.
Se alguém estiver trabalhando com o único objetivo de ganhar remuneração em dinheiro, estará vendendo a si próprio. Esse comportamento é o mesmo que o da prostituição. Com certo exagero, podemos dizer até que essa atitude é um pouco pior do que a prostituição, pois, de modo geral, quem se prostitui vende somente o contato da pele ou da mucosa do seu corpo, mas quem trabalha visando unicamente à remuneração está vendendo o corpo inteiro. Aquele que trabalha apenas para ganhar dinheiro não está conscientizado do verdadeiro significado nem do profundo valor espiritual do trabalho (...)
Nós sabemos que as palavras emitem determinadas ondas de vibrações. Portanto, quem estiver exercendo uma função na forma de trabalho, por influência da vibração da palavra, estará tendo um sofrimento. Se o trabalho fosse sofrimento, seria evidente que quem trabalhasse com esse pensamento desejaria diminuir sua carga horária, exigindo uma maior remuneração. Por isso, devemos nos conscientizar, cada vez mais, do real significado do trabalho e sua importância. Na língua japonesa, a palavra trabalho é expressa pelo ideograma hataraku, o qual tem o significado de “oferecer conforto aos outros”. Nesse caso, o esforço e a dedicação ao trabalho devem proporcionar bem-estar aos semelhantes. É evidente que esse trabalho se torna gratificante e motivante.
Aparentemente, o “trabalho” parece ser um meio para se obter dinheiro, porém o seu verdadeiro e o mais importante significado é “servir à humanidade”, é “manifestar amor”, é “desenvolver a alma” através dele. Sem trabalho, não podemos ser úteis à humanidade, nem manifestar nosso amor, nem desenvolver a nossa alma. O trabalho é uma “atividade da vida” destinada a aprimorar e elevar a nossa alma. O trabalho é uma oportunidade para manifestar a nossa vida, a Vida que recebemos de Deus. Portanto, podemos dizer que a pessoa que não exerce nenhum trabalho é alguém realmente infeliz. A pessoa que deixa de trabalhar está abandonando a “escola da vida” e está renunciando a manifestação de sua preciosa energia vital. (...)
O homem, através da execução de algum trabalho, torna-se útil a seus irmãos da vida em sociedade e, ao mesmo tempo, encontra uma oportunidade de polir a sua alma. Essa é a missão com que o homem nasceu aqui na Terra. Com a execução de um trabalho útil, o homem consegue descobrir a razão de viver e adquire confiança em sua força vital.
Qualquer trabalho, por mais insignificante que seja, estará ligado ao “Amor de Deus” se tiver como finalidade vivificar os familiares e o próximo. Enquanto estivermos realizando esse trabalho como que servindo, sentiremos a alegria e a razão de viver, em proporção direta à nossa dedicação a ele. Se alguém não consegue sentir a alegria de viver, é porque está dedicando sua vida apenas a si próprio, deixando de vivificar os outros.
3.5. Oração para ter boas ideias para servir à humanidade:
“Ó Deus, Criador do Universo e meu Pai, concedei-me uma boa ideia, que esteja de acordo com o meu talento e que beneficie o maior número possível de pessoas. E concedei-me a força vital capaz de realizar essa boa ideia.
Minha oração já foi ouvida, muito obrigado” (A Verdade da Vida, vol. 8, pg. 161)
“Enquanto as pessoas acreditarem que existe uma 'situação material' chamada pobreza, terão de recorrer a algum meio material, na tentativa de combatê-la. Então, é natural surgirem ideologias materialistas com a de Marx” (A Verdade da Vida Vol. 17, pg. 16)
Esta não é uma verdade exclusiva da Seicho-No-Ie. O economista austríaco Ludwig von Mises, em sua “A Mentalidade Anti-Capitalista”, assim se expressa, na pg. 15: “Para quem reclama da injustiça do sistema de mercado, cabe somente um conselho: se quiser enriquecer, tente satisfazer o público oferecendo-lhe algo mais barato ou de que ele goste mais (...) Porque essa é a lei da democracia econômica de mercado. Aqueles que satisfazem um número menor de pessoas conseguem menos votos – dinheiro – do que os que satisfazem o desejo de mais pessoas”
Reconstruindo a Vida Humana, in “Você É Dono de Potencialidade Infinita”, pg. 210.
A Verdade da Vida vol. 7 in “Você É Dono de Potencialidade Infinita”, pg, 211
No Bhagavad Gita consta este belo trecho dito por Krishna (Deus): “Se eu não agisse sem cessar e me retirasse de minhas manifestações, a humanidade em peso ficaria sem luz nem orientação e acabaria por se perder. Se, por um momento, eu deixasse de agir, pereceria o mundo inteiro, vítima do caos – e minha seria a culpa da ruína da humanidade (Cap. 3, 23-24)
A Verdade, vol. 9 in “Você É Dono de Potencialidade Infinita”, pg, 215-216.
A Prosperidade Em Suas Mãos, Yoshihico Yuassaca, pg. 59-64.