Continuemos com nossa série de questões doutrinárias, todas elas respondidas pelo preletor Eduardo Nunes da Silva. Esta aqui, constante no Círculo de Harmonia de novembro de 2010, pg. 11:
"Há algum tempo a questão da eutanásia ocupou grande espaço na mídia, devido ao caso da americana Terri Schiavo, que teve o tubo de alimentação desligado por ordem do Tribunal Federal da Flórida. A questão permanece aberta. Os defensores da eutanásia tentam justificar sua posição afirmando ser essa prática uma forma de evitar o sofrimento acarretado por um longo período de doença.
Se virmos o homem apenas como um ser carnal, não deixa de ser lógica a argumentação dos defensores da eutanásia. Quem não tem um conhecimento mínimo das leis mentais e espirituais tenderá a achar que os sofrimentos experimentados por um doente surgem por obra do acaso e não têm qualquer finalidade. Desta maneira, também é natural que acredite que a morte seja o fim do sofrimento.
A questão é: 'É ético tirar a vida de uma pessoa ou permitir que ela acabe com a própria vida, no caso de suicídio assistido, quando não há a possibilidade de ela se curar e o seu sofrimento é atroz?'
A bioética trata dos prolongamentos e das abreviações da vida. E há os que defendam a ortotanásia, que é a morte, no entender de alguns, no tempo certo, reta, digna, sensível aos processos de humanização. Em artigo publicado no Jornal Folha de São Paulo de 26 de março de 2005, a Dra. Nise Yamaguchi abordou da seguinte forma as questões envolvendo eutanásia, distanásia e ortotanásia:
'Existe grande confusão entre os diversos tipos de eutanásia – ou boa morte. Uma é a eutanásia ativa, na qual o médico ou alguém causa ativamente a morte do indivíduo e que é proibida por lei no Brasil. Anda de mãos dadas com o chamado suicídio assistido, mas é prática regulamentada em alguns outros países, como Holanda e Dinamarca.
'Em um outro extremo há a distanásia ou obstinação terapêutica, que, segundo o especialista em bioética padre Leo Pessini, ‘é uma ação, intervenção ou um procedimento médico que não atinge o objetivo de beneficiar a pessoa em fase terminal e que prolonga inútil e sofridamente o processo de morrer, procurando distanciar a morte’. Sou contra a distanásia – aqui vale um debate ético, afinal, a distanásia é diferente daquela situação em que um paciente com câncer ou Aids controlados, por exemplo, tem uma infecção e vai para a UTI ou para uma intervenção cirúrgica, e tais procedimentos podem até melhorar sua qualidade de vida e aumentar o tempo de existência'.
Em seu livro 51 Consultas Femininas a professora Teruko Taniguchi diz: 'Existe a palavra eutanásia que se refere ao ato de abreviar a vida de um doente incurável, para pôr fim a seus sofrimentos. Ao ver um ente querido – pai, mãe, filho, etc. – acometido por uma doença incurável e contorcendo-se de dores atrozes, algumas pessoas desejam libertá-lo logo desse sofrimento injetando-lhe ou fazendo-o tomar uma substância letal. Desejam isso justamente porque amam a pessoa que está sofrendo e querem proporcionar-lhe alívio. Mesmo assim, desejar a morte de um ser humano é condenável, tanto moral como juridicamente'.
No livro Entrada para o Mundo de Deus, do professor Seicho Taniguchi, consta: 'É imprescindível que as pessoas reconheçam a existência da Vida verdadeira e se empenhem em manifestá- la, o que é muito mais importante do que procurar preservar a todo custo a vida do corpo carnal'.
Baseados nas palavras dos professores Teruko e Seicho Taniguchi, podemos crer que a eutanásia não pode ser considerada um correto posicionamento ético e religioso. A Revelação Divina de 15 de setembro de 1933 esclarece que os sofrimentos são um expediente da Vida para purificar os carmas negativos do passado e que por isso as comunicações do mundo espiritual enaltecem o valor dos sofrimentos. Não queremos dizer que não se deve fazer nada para aliviar os sofrimentos. Nesse sentido todos os esforços científicos devem ser utilizados, além das orações, especialmente dos familiares.
Mas se não concordamos com a eutanásia, também não podemos concordar com a obstinação da distanásia, que tenta preservar a vida física a todo custo através de métodos artificiais. Há momentos em que o profissional da saúde deve se empenhar em dar conforto e minimizar os sofrimentos do paciente, mas deixar a vida seguir o seu curso até que, em chegando a hora, possa 'romper livremente o casulo de carne e ascender ao mundo espiritual'.
Hoje, quando estou escrevendo este texto, completa 36 dias do falecimento de minha querida mãe. Os médicos adotaram um procedimento, em meu entender, exemplar. Ela foi nutrida e recebeu medicamentos para que não sofresse, mas sem a obstinação de manter seu corpo de anciã em situação vegetativa. Quando chegou a hora determinada pela Vida, ela pode expirar tranquilamente."
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