domingo, 20 de junho de 2010

Palestra 19.06.2010

PALESTRA – CAPÍTULO 6 – O CAMINHO PARA O MUNDO DA IMAGEM VERDADEIRA
(A HUMANIDADE É ISENTA DE PECADO)

1 - O eterno fluir da Vida (Vol.27), pg. 224-228

“Segundo a filosofia de Holmes, Deus é o Criador de todas as coisas, mas Ele não cria infortúnios para nós, arbitrariamente. Ele cria e dá a todos nós, sem discriminação, tudo que nossas próprias mentes concebem – sejam doença ou saúde, pobreza ou riqueza, adversidade ou situação favorável, infortúnio ou felicidade. Ele cria tudo isso, usando como 'molde' os nossos próprios pensamentos. Com isso, Ele assegura a nossa liberdade e, além disso, prova que, não tendo imagem própria, é capaz de assumir ou criar infinitas formas segundo a mente das pessoas (...). Holmes não considera a ilusão como criadora do mundo fenomênico, mas sim como 'molde' de criação apresentado pelo homem ao Criador, para que Este, com Sua capacidade de assumir livremente infinitas formas, criasse o mundo fenomênico, usando essa ilusão como 'molde'” (A Verdade de Vida, volume 20 – Autobiografia) (...)
Como podemos ver, o New Thought parece uma corrente homogênea formada de vários pensadores que seguem a mesma linha, mas eles divergem em pontos fundamentais. Para apreendermos a essência do New Thought, precisamos “peneirar” os pensamentos de seus líderes e eliminar as impurezas. E, como eles se baseiam na Bíblia, precisamos “peneirar” todas as outras religiões não-cristãs, se quisermos extrair a essência comum a todas as religiões. Assim procedendo, estaremos extraindo o “ouro puro” que se chama Vida que flui eternamente. (...)
No budismo existe uma polêmica quanto à origem do Universo: se é Verdade absoluta ou se é consciência alaya1. (a mente que originou, sustenta e contém o Universo). Dizem que “num pensamento estão contidos dez mundos, e dentro de uma mente existem três mil mundos”. A questão é saber se esse “pensamento” e essa “mente” se referem à mente da Verdade absoluta ou à consciência alaya E isso envolve as seguintes questões:
1 – Será que Buda também está sujeito à ilusão?
2 – Será que o mortal em ilusão pode se tornar Buda?
3 – Buda jamais caiu em ilusão?
Quanto ao primeiro item, eu o neguei totalmente. Quanto ao segundo item, admiti a existência aparente do “mortal em ilusão” como buda fenomênico. Quanto ao terceiro item, admiti-o plenamente. Afirmei categoricamente que “a criatura humana é originariamente Buda, e Buda jamais caiu em ilusão!”. Compreendi que todo homem é Buda e jamais caiu em ilusão, e que o eu perceptível aos cinco sentidos, que parece sujeito à ilusão, não existe.

2 - Transcendendo o jakko (“mundo da claridade serena”), pg. 228-259 (Vol. 39)

Carta do Sr. Hyakuzo Kurata2 para o prof. Masaharu Taniguchi (pg, 228-234)

Em síntese, trata-se de uma carta em que o Sr. Kurata acha “que existe uma diferença básica entre o meu conceito de jakko (luz difusa) e o seu conceito de Luz. Segundo o meu conceito, jakko é uma luz mesclada com treva, e não a luz em oposição à treva. Assim, ele abrange também doenças, infortúnios e calamidades. É muito diferente da luz resplandecente, diante da qual a treva se afasta.
Por causa dessa diferença de conceitos, não estou em condição de escrever um texto apoiando inteiramente o seu ponto de vista” (pg. 232).

Resposta ao Sr. Hyakuzo Kurata (pg. 234-259):

“O senhor considera que “na vontade da Grande Fonte do Universo existem luz e sombra, ou seja, o daijakko (a Grande Penumbra), que abrange simultaneamente a sombra e a claridade”. Com base nesse pensamento, o senhor afirma que não consegue ir além desse conceito, isto é, não consegue acompanhar a ideia de um mundo exclusivamente de luz (...) o senhor chegou a essa conclusão porque está confundindo o Universo Verdadeiro com o Universo Fenomênico. O Universo Verdadeiro é o 'mundo em conformidade com a vontade de Deus', é o 'mundo onde as graças estão à nossa disposição, mesmo que não as peçamos', é o 'mundo onde o Amor de Deus envolve a todos, do mesmo modo que o Sol ilumina os bons e os maus'. É, portanto, um mundo onde existe unicamente luz. Já o Universo Fenomênico é um mundo onde o aspecto perfeito do Universo Verdadeiro é projetado de maneira imperfeita na dimensão tempo-e-espaço, devido a distorções e irregularidades da 'lente mental'. É, portanto, um mundo onde se mesclam a luz e a sombra, o certo e o errado, a saúde e a doença. (pg. 248-249)
Se muitas pessoas têm dificuldade de entender a 'visão de um mundo constituído exclusivamente de luz' preconizada pela Seicho-No-Ie, é porque estão confundindo o Universo Fenomênico com o Universo Verdadeiro, e o homem fenomênico com o homem real “ (pg. 255).

3 - Eliminando-se a ilusão, manifesta-se a Imagem Verdadeira (pg. 260-272) (vol. 20)

Parte (4), pg. 266-272

Pg. 268: Refleti muito, dia após dia, mas não alcancei a paz interior.
Certo dia, eu estava fazendo a meditação, pedindo a Deus que me revelasse a Verdade, quando, por acaso ou pela inspiração divina, surgiu-me na mente um trecho da sutra budista, que diz Shiki-soku-zeku3, que significa “Matéria é sinônimo de vazio”. No mesmo instante, uma voz misteriosa, baixa mas firme, ecoou no meu ouvido: “A matéria não tem existência”. E eu pensei, em seguida, uma outra frase: “Vazio é sinônimo de matéria”. A voz misteriosa tornou a soar:
“Tudo surge do nada. Todas as coisas fenomênicas, sendo projeções da mente, são originariamente inexistentes. Tudo é originariamente inexistente; portanto, tudo surge do nada. Como o homem se deixa levar pela ilusão de que tudo se cria a partir de algo que existe, ele sofre devido ao apego às coisas que julga existentes. Não houvesse tal apego, ele seria totalmente livre. Ele passaria a desfrutar a provisão ilimitada, que torna possível repartir cinco pães para alimentar cinco mil pessoas ou fazer uma grande fortuna a partir do nada. O mundo fenomênico não passa de um mundo ilusório que se vê através da lente mental. Parece existir, mas não é existência real. Compreenda que todas as coisas fenomênicas são inexistentes. Compreenda que seu corpo carnal também é inexistente.”
Ouvindo isso, pensei: “E a mente (mente fenomênica), será que existe?”. No mesmo instante, a voz respondeu: “A mente também não existe”. Até então, eu pensava que a mente fosse como um cavalo arisco, rebelde e imprevisível, e eu tinha a maior dificuldade em domá-la. Ouvindo a afirmação categórica de que “A mente também não existe”, desmontei o cavalo arisco chamado mente e pisei no chão firme do mundo da Imagem Verdadeira.
- Se não existe nem a mente, isso que dizer que não existe absolutamente nada? - voltei a perguntar.
- Existe a Imagem Verdadeira – respondeu a voz.
- O nada é Imagem Verdadeira? O vazio é Imagem Verdadeira?
- O nada não é a ImagemVerdadeira. O vazio também não é a Imagem Verdadeira. O vazio é o fenômeno. A matéria e a mente (mente fenomênica) é que são o vazio. O corpo carnal – que é matéria – e a sensibilidade, a imaginação, a vontade e a consciência, que são formas da mente4, são o vazio.
- Mas o vazio não é diferente do nada?
- Não pense que o vazio seja diferente do nada. Quando se diz que a matéria e a mente são o vazio, significa que elas são o nada. Por pensar que o vazio é diferente do nada, você não compreende que a matéria e a mente são o nada, e é por isso que esbarra nelas. Quando se aniquilam a matéria e a mente pela clara compreensão de que elas são o nada, então se manifesta a Imagem Verdadeira. Quando se considera inexistente o que inexiste, manifesta-se o que existe verdadeiramente.
- E o que é Imagem Verdadeira?
- Imagem Verdadeira é Deus. Unicamente Deus, Sua mente e a manifestação de Sua mente são existências verdadeiras. Estas constituem a Imagem Verdadeira.
- Mas a mente não é inexistente?
- “Mente inexistente” significa mente fenomênica. No sentido de existência verdadeira também o Buda fenomênico e todos os seres fenomênicos são inexistentes. Quando se “aniquila” o buda fenomênico e a mente fenomênica pela compreensão de que todos os fenômenos são inexistentes, manifesta-se a Imagem Verdadeira, o Buda verdadeiro e eterno.
- Esse “aniquilamento”, em termos cristãos, seria a crucificação de Jesus?5
- Exato. Quando se aniquila o Jesus carnal, surge o Cristo-verdadeiro, o Cristo Eterno, que existe desde antes de Abraão. A cruz de Jesus Cristo simboliza a Verdade de que a Imagem Verdadeira se manifesta quando se aniquila o fenômeno. Agora, aqui, ressuscita a Vida eterna. É agora! É agora! O agora eterno! Agora é a ressurreição! Vivifique o agora!
Apesar de continuar com os olhos cerrados, vi diante de mim uma luz ofuscante. Tive a impressão de ver vagamente, no meio da luz, uma imagem branca que devia ser o dono da voz misteriosa. Mas logo a luz se apagou e, quando abri os olhos, percebi que continuava sentado, com as mãos postas.
Naquele momento, alcancei a compreensão de que a mente em ilusão é inexistente e, consequentemente, não existe também a “mente que alcança a iluminação por meio do despertar”. Compreendi que é um equívoco pensar que a mente em ilusão evolui, alcança a iluminação e se torna Buda. Compreendi que existe unicamente a Mente da Imagem Verdadeira que é a manifestação dessa Mente-Suprema. O Buda fenomênico (Sakyamuni), que meditou durante seis anos para alcançar a iluminação, não era existência verdadeira. Unicamente o Buda eterno a quem ele se referiu na declaração “Eu sou Buda desde o princípio dos tempos” é existência verdadeira, e esse Buda eterno vive aqui e agora. Jesus Cristo enquanto “homem fenomênico” que, pregado na cruz, clamou “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?”, não era existência verdadeira. Unicamente o Cristo eterno, a quem ele próprio se referiu na declaração “Antes que Abraão existisse, eu sou”, é existência verdadeira, e esse Cristo eterno vive aqui e agora. Conscientizei que eu também não sou um “homem fenomênico” nascido de minha mãe em 22 de novembro de 1893 e que só agora alcançou o despertar. Compreendi que sou um ser divino, um ser búdico, desde o princípio dos tempos”

4 - Reverenciar a Vida (pg. 272 – 297), Vol. 33

Mas, afinal, em que consiste a Verdade preconizada pela Seicho-No-Ie? Para compreendê-la, é fundamental entender o que significa “reverenciar a Vida”, que consta no item 1 das Sete Declarações Iluminadoras da Seicho-No-Ie (...) A primeira declaração da Seicho-No-Ie é no sentido de reverenciar a Vida, essa Força invisível e misteriosa que nos mantém vivos, e isso corresponde a “reverenciar a Muryo-ju6”, na linguagem do budismo, e a reverenciar o “pão da Vida”, na linguagem do cristianismo (...) Afinal, o que é essa energia misteriosa chamada Vida, que nos mantém vivos? (...) Na Seicho-No-Ie, chamamos de “vida fenomênica” à Vida manifestada no plano fenomênico. Afirmamos que a vida fenomênica é apenas “manifestação da Vida” e não a Vida em si, que existe verdadeiramente. À Vida que existe verdadeiramente, chamamos de Imagem Verdadeira da Vida7” (pg. 272-274)

5 - Alcançar o mundo da Imagem Verdadeira (pg. 297-304), Vol. 23

Aquele que vai para o paraíso ou que vai para o inferno ou purgatório não é a Imagem Verdadeira (Eu verdadeiro) da pessoa, e sim o eu fenomênico, o eu transitório. O Eu verdadeiro encontra-se, desde o princípio, no paraíso da Imagem Verdadeira, repleto de harmonia,vivendo como ser perfeito, dotado de amor infinito, sabedoria infinita e Vida infinita e abençoado com as dádivas infinitas de Deus. A entidade conhecida como espírito, que, após habitar temporariamente o corpo carnal, desliga-se deste e continua a viver num meio chamado mundo espiritual, é o eu transitório, constituído de ondas mentais. Em última análise, o espírito (corpo astral ou corpo espiritual) também é um aspecto temporário do ser, mantido pelo poder da mente, não sendo, portanto, o Eu verdadeiro. É por isso que o budismo nega a existência de espírito, pregando que o “eu” não existe. (pg, 297-298).

1É o oitavo sentido, a "consciência da memória", alayavijñana em sânscrito. A oitava e mais fundamental das oito consciências estabelecidas na doutrina da escola Yogacara. (A sexta consciência é a mente pensante e a sétima é a noção de ego.) A consciência alaya acumula toda a energia potencial para a manifestação mental e física da existência do indivíduo, e supre a substância a todas as existências. Também recebe impressões de todas as funções das outras consciências e as retém como energia potencial para suas manifestações e atividades posteriores. Já que serve de base para a produção das outras sete consciências (chamadas "consciências transformadas"), também é conhecida como a "consciência-base" (mula-vijñana). A oitava consciência dá um senso de eternidade, unidade, subjetividade e maestria, lembrando um atmã eterno (o aspecto do ser que é imutável mesmo após as transmigrações), fazendo, assim, a sétima consciência enganosamente perceber e apegar-se a um ego. (Do site http://estevaomonteiro.com/Magia/mito.htm, acessado em 19.06.10)

2Hyakuzo Kurata (倉田百三, Kurata Hyakuzō (23 Fevereiro 1891 - 12 Fevereiro 1943) foi um ensaísta e teatrólogo em assuntos religiosos nas eras Taisho e no início da era Showa. Escreveu “O Mestre e seu discípulo (“Shukke to sono deshi”)

3Na sutra budista “Hannya Shingyo” (Sutra da Sabedoria) (vide explicações maiores sobre esta sutra no capítulo final de “Você Pode Curar a Si Mesmo”, de Masaharu Taniguchi.). Na obra “Shodoka – o Canto do Satori Imediato” de Yoka Daishi consta: “A essência do sutra do Hannya Shingyo é “shiki soku ze ku/ ku soku ze shiki” (os fenômenos não são diferentes de ku, ku não é diferente dos fenômenos.” (pg. 21)(ku = nada)

4Na linguagem budista, estes cinco elementos correspondem aos skhandas, que são os cinco agregados que correpondem à individualidade (fenomênica, segundo a Seicho-No-Ie): a matéria (rupakkhanda ou shiki), a sensibilidade (vedanakkhanda ou ju), as percepções (sannakkhanda ou so), as formações mentais, ações do espírito ou simplemente imaginação (samkharakkhanda ou gyo) e, por fim, a consciência (vinnanakhanda ou shiki) (obras: Budismo, Psicologia do Autoconhecimento, Dr. Georges da Silva e Rita Homenko e Shodoka – O Canto do Satori Imediato, Yoka Daishi). Assim, segundo a revelação que o Mestre recebeu, estes cinco agregados, que compõem a individualidade humana, ou, simplesmente, mente, não existe. Só existe, assim, a Mente Divina, na qual estamos todos submersos.

5Notem que na Iluminação do Mestre ele fala em termos budistas em primeiro lugar e em termos cristãos logo a seguir, comprovando a unicidade de pensamento da Seicho-No-Ie.

6Vida Infinita, na linguagem budista.

7Compare este trecho com este outro, constante na Verdade da Vida volume 17: “Quem está me ouvindo pela primeira vez provavelmente não sabe o que é a Imagem Verdadeira do ser humano. Vou explicar em poucas palavras. Dentro de cada ser humano existe a fonte da força infinita, pronta para jorrar, embora a maioria das pessoas jamais se aperceba disso. Essa fonte de força infinita é que é a Imagem Verdadeira do ser humano” (pg. 60)

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