"Você não deve hesitar. Não deve parar e olhar à sua volta. Você deve avançar, seguir em frente, sem vacilar. Nessa hora, você deve ser capaz de caminhar corajosamente sobre uma corda colocada nas alturas. Se sentir insegurança ou vacilar, você cairá dessa corda. E, assim, sua vida sofrerá um revés. Por isso, você deve caminhar firme, adiante. Com o olhar voltado para a frente, caminhe em direção à sua meta, de modo imutável. Nessa hora, terá uma mente pura e transparente, um coração de criança, um coração sem pensamentos impuros. Viver naturalmente significa viver assim."
Não se espantem, o capítulo já acabou, mas encerra interessantes questionamentos. O que está por trás deste nosso comportamento de hesitação, de olhar para o lado ante uma situação aparentemente adversa? Viver naturalmente significa viver assim. Como assim "viver assim"?
Vou continuar no exemplo que o prof. Seicho nos falou: imaginemos se você se equilibrar num estreito meio-fio, de um lado está a calçada, do outro a rua. É fácil, não? Faremos isso com um pé nas costas e outro se equilibrando. Agora, imaginemos nos equilibrar desta mesma forma a dez metros de altura. Entraremos em pânico, não? Sim, mas como ficaremos nervosos se quando estávamos no chão ficávamos tão tranquilos?
A aparente resposta é uma só: instinto de preservação: ora, bolas, no chão não tem problema, mesmo que eu caia só levo um ou outro arranhão e só. A dez metros a história muda, eu posso cair e ser lembrado apenas na forma de uma tabuleta memorial ou se algum amigo se dignar a me inscrever no culto eterno, certo?
Certo. Absolutamente certo. Mas ainda não é a resposta para o nosso questionamento. Repiti-lo-ei: o que está por trás deste nosso comportamento de hesitação, de olhar para o lado ante uma situação aparentemente adversa?
A resposta é uma só: nossa imaginação. Veja bem, no exemplo que damos, a única variável existente foi a altura, a base de sustentação (onde nos equilibramos) permaneceria o mesma, poderíamos até mesmo dobrar a distância e o medo seria exatamente o mesmo.
Mas aí poderão dizer: claro que teremos medo, afinal, algo muito mais importante do que a imaginação funciona num quadro destes, é o instinto de auto-preservação.
Aí sim vocês chegaram onde eu queria chegar: instinto. Carregamos há milhares de anos, de nossos antepassados, tais comportamentos aparentemente medrosos, sob a forma de instinto, comportamentos estes que nos ajudaram a chegar onde nós estamos agora. Mas...
Mas até onde tamanha precaução e tamanho instinto de auto-preservação nos ajudaria a sermos pessoas melhores? Qual a fronteira entre este instinto e a fobia ou a covardia? E, pergunto mais, até que ponto a fé em nosso Deus interior nos permitiria utilizar este instinto de um modo tão controlado que nos permitiria a viver, como diria o prof. Seicho, de modo natural?
Ah, e não sou um superhomem neste sentido também não: várias e várias vezes este instinto aflora em mim de modo totalmente inconsciente, ou seja, aparentemente "descontrolado"...
A verdade, queridos leitores, é que certas verdades espirituais só se incutem em nós através de uma forte experiência. As promessas do Salmo 91 por exemplo ("Mil cairão a tua direita e dez mil a tua esquerda") só nos serão sentidas por experiência própria, que nem São Tomé. Até lá nosso instinto permanecerá como o único guia cego de nossas ações.
Salvo se... tivermos uma fé de uma criança, mesmo que do tamanho de um grão de mostarda. Aí podemos, efetivamente, viver naturalmente...
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