"As grandes metrópoles possuem a sua beleza, e o campo também. Se, estando numa metrópole, olharmos somente a sujeira que nela existe, ou, estando no campo, olharmos somente a falta de praticidade do local, estaremos errados. Isso seria comparável a um homem desejar ter nascido mulher; ou a uma mulher que, desejos de ter nascido homem, age propositadamente como se fosse um homem. Isso é um verdadeiro desperdício de tempo e energia. Como se não bastasse, ainda acumulam carma, ao instilar às pessoas a peçonha da 'insatisfação'. Você precisa primeiramente agradecer ao lugar onde mora. Agradeça, de coração, pelo fato de não ser um campo de batalha no Vietnã, nem estar diante dos tanques de guerra soviéticos no Afeganistão, mas simplesmente estar em uma metrópole ou localidade do interior, no Japão"
Excelente trecho, não acham? Ainda mais para mim que, tal como o eu lírico de Raul Seixas em "Eu Também Vou Reclamar", "pois eu sou um rapaz latino-americano que só sabe se lamentaaaaar", eu chorarei também minhas fenomênicas pitangas!
A pitanga mais imediata: arranquei hoje o que os odontólogos chamam de "segundo molar", ali, bem do ladinho do nascituro terceiro molar, que os referidos profissionais costumam chamar de siso. Doer não é bem o termo, mas confesso que estar com a boca amarrada por dentro não é lá uma situação très agréable, ainda mais em se tratando de tê-lo extirpado bem no meio de um feriadão, num dia chuvoso, o que me impediu, inclusive, de dar uma palestra hoje, afortunadamente transferida para a próxima segunda-feira, justamente sobre este livrinho!
Já que o professor Seicho também falou, vou dar mais uma choradinha: moro no quarto andar de um prédio sem elevador e não sei porque ofícios metabólicos eu só tenho engordado ao invés de afinar minha silhueta. Confesso que, quando estou no ponto de ônibus e esqueço meu Bilhete Único em casa, a vontade de xingar é muita, tamanha...
Que mais? Ora, minhas senhoras e meus senhores, todos nós temos nossos motivos de queixa, e frequentemente os mais ridículos possíveis: um dente, uma casa no alto (e isso que não lhes contei onde morava em Anchieta...!).
Mas quantos de nós agradecemos por ter a ventura de achar um dentista que não seja carniceiro (como o meu!) e tratou bem deste extirpado apêndice calcáreo? E pela felicidade de ter onde dormir, ainda que seja nas franjas do Everest (ok, ok, exagero um pouco, mas tudo bem...)
Se fôssemos colocar na ponta do lápis, teríamos muito mais motivos para agradecer do que para lamentar. Aliás, sequer teríamos motivos para lamentar, pois tudo vem para o nosso bem. Eu antigamente achava que esta frase ou era uma desculpa moral ou riminha infantil para educar crianças. Hoje, depois que certas coisas ocorreram comigo no último inverno e que um dia me disporei a dividir convosco neste espaço, acredito piamente que não: tudo ocorre, ocorre não é bem o termo, tudo concorre para o nosso êxito, mesmo as situações aziagas!
No fundo, é bem como cantarola Benito di Paula, no seu samba que todo malandro de verdadee deve entoar após efetuar um belo shinsokan: "Tudo está no seu lugar, graças a Deus, graças a Deus, não podemos esquecer de dizer: graças a Deus, graças a Deus..."
Texto maravilhoso, e seus comentários idem.
ResponderExcluir"Tudo está no seu lugar, graças a Deus, graças a Deus, não podemos esquecer de dizer: graças a Deus, graças a Deus..."