domingo, 27 de março de 2011

Da Vigésima Nona Palestra

Voltando da minha tia, ainda tive fôlego para realizar mais uma palestra na Associação do Carlos Victor, a vigésima nona de minha incipiente carreira (sim, eu ainda conto as palestras que dei!). Tema: capítulo 10 de Saúde E Prosperidade, "Levante-se Embasado No Que Lhe Pertence", basicamente constando de duas histórias, a do Sr. K e de Kan´Ichi Ishikawa (este vocês podem ler mais nos volumes 17, 18 e 27 da Verdade da Vida. A palestra foi boa, acho que devo ter agradado, não sei. Vamos então ao capítulo de minha palestra:
PALESTRA 26.03.2011 – SAÚDE E PROSPERIDADE – CAP. 10 PG. 85 LEVANTE-SE EMBASADO NO QUE LHE PERTENCE
Por que ele fracassou? A Religious Science, nova ramificação do cristianismo, surgiu nos Estados Unidos a partir da grande obra Science of Mind (Ciência da Mente), do dr. Ernest Holmes. Esse fato foi muito parecido com o surgimento da Seicho-No-Ie como religião, a partir da coleção de 40 volumes d´A Verdade da Vida. Baseada nessa nova filosofia religiosa, foi fundada primeiramente a igreja chamada Religious Science. O sucessor do dr. Holmes, o teólogo dr. William Hornaday, foi quem se dedicou para fundar essa nova igreja. Eu o conheci quando ele me enviou um livro de sua autoria, dizendo que estava planejando para, num futuro próximo visitar o Japão e convidava-me para, nessa ocasião, realizarmos em conjunto viagens de conferências pelo país. Li a obra do dr. Hornaday e constatei que havia ensinamentos muito parecidos com os da Seicho-No-Ie,. Apresentarei parte deste livro, pois acho que será de grande utilidade para os senhores. Certo dia, apareceu um homem no escritório do dr. Hornaday. Ele foi por algum tempo famoso roteirista do cinema americano, sendo o seu talento grandemente reconhecido nesse meio, tanto como diretor quanto como produtor, e ganhou muito dinheiro. Segundo ele próprio, por alguns anos sua receita chegou a ultrapassar em muito a renda anual do presidente dos Estados Unidos. Vamos chamá-lo provisoriamente de K. O dr. Hornaday ficou observando o visitante enquanto este falava. Vestia uma roupa elegante, tendo no bolso do paletó, bem dobrado, um lenço de muito bom gosto com as iniciais dele bordadas em arabesco, os sapatos estavam bem engraxados, e, aparentemente, era um cavalheiro muito bem-apessoado. Mas sua fisionomia demonstrava certo ar de tristeza, intranquilidade, impaciência. E disse: – Doutor, estou em dificuldades. Preciso que alguém me ajude. Não tenho um dólar sequer em meu bolso. Deixei estacionado na rua um Cadillac de última linha, mas nem sei como abastecê-lo para locomover-me com ele. – Você tem um Cadillac de última linha? – perguntou o dr. Hornaday, intrigado com o fato de K, que não possuía nem um dólar, andar num automóvel tão luxuoso. Segundo K, isso era para manter as aparências, uma espécie de propaganda do próprio nome. Diariamente ele visitava estúdios, agências e antigos colegas à procura de trabalho, e usava o automóvel para a locomoção. Até pessoas que no passado patrocinaram o trabalho dele apenas murmuravam “Com essa idade... E os quatro últimos filmes que você produziu acabaram fracassando todos...”, e não havia ninguém que contratasse seus serviços. Ele contou, com amargura e indignação, como era inconsistente o sentimento das pessoas, pois seus amigos de outrora agora viviam evitando-o. Outrora, quando possuía uma ampla mansão, tinha muitos amigos. Sua casa era frequentada por muitos astros de cinema e artistas de várias áreas, mas teve de entregar a casa para saldar parte de uma dívida, e estava vivendo num casebre numa colina em Hollywood. Quando ele chegou a este ponto na narrativa, desapareceu a expressão de raiva e seu rosto tornou-se tristonho, provavelmente por ter se lembrado do amor da esposa. Parecia que ela, apesar de todas as outras pessoas considerarem-no personagem do passado, acreditava integralmente no marido e pensava que certamente ele realizaria um trabalho num futuro próximo. Ele disse: – Deixei meu Cadillac estacionado a umas quatro ou cinco quadras daqui. Por quê? É que ele foi penhorado e a instituição financeira está procurando-o para levar como pagamento da dívida não saldada. Contei tudo ao senhor. Por favor, oriente-me e dia o que devo fazer. Estou numa situação muito crítica. Não tenho mais forças... Era nisso que se transformara aquele famoso diretor e grande produtor de cinema. O dr. Hornaday ficou observando o visitante, procurando entender por que ele, que alcançara tanto sucesso, estava reduzido a essa pobre criatura. Aparentemente, ele vestia roupa de bom corte, mas podia-se notar que isso era apenas disfarce e que servia apenas para manter as aparências. No seu interior, o ponteiro do medidor da alma estava apontando para o lado da autolimitação, que pensa “Não consigo mais”. Podia-se notar que era por isso que tudo que ele fazia levava-o à autodestruição. Realmente, ele próprio comentou: “Não há mais chance de eu me reerguer. Tudo está acabado, não passo de um personagem do passado”. O que levou K a esse destino foi a própria autolimitação, os pensamentos “Tudo está acabado”, “Não passo de alguém que pertence ao passado”. Foram esses pensamentos que impediram a manifestação da sua inerente força infinita. Quando uma de suas quatro últimas produções fracassou, ele teve intenso pensamento derrotista “Sou um fracassado!”, e foi essa a causa do seu insucesso posterior. O pensamento intenso “Sou um fracassado!” ficou gravado no seu subconsciente, e, com a ação automática do subconsciente, ele agiu de forma que fracassasse também no trabalho seguinte que realizou. Com outro trabalho também aconteceu o mesmo, sendo o fracasso novamente gravado no subconsciente. Repetindo para si esse pensamento negativo, intensificando o pensamento “Sou um fracassado!”, e, por reação em cadeia, a autolimitação foi se acumulando ainda mais. E isso piorou ainda mais o seu destino. Observando K, o dr. Hornaday percebeu que a causa do mísero estado a que ficara reduzido estava na própria atitude mental negativista dele. Entendeu que isso era efeito daquilo que o pensamento negativo de K causara e que o fizera perder tudo que possuía. Por isso, explicou paciente e pormenorizadamente a Verdade de que tudo neste mundo fenomênico se manifesta a partir da nossa mente. E disse: – Exteriormente, você se veste como um homem de sucesso, que é o seu desejo, mas sua atitude mental é negativa. Se deseja obter sucesso novamente, deve mudar a atitude mental e pensar “Sou um homem de sucesso”. Manifesta-se como nosso destino o que se assemelha àquilo que desenhamos em nossa mente. Você só tem 63 anos. Se você mudar para uma nova atitude mental, o futuro lhe reservará uma grandiosa vida. Oremos juntos. Assim, dr. Hornaday e K, com a mente positiva e alegre, mentalizaram, durante a oração, que um futuro cheio de esperanças o aguardava e se aproximava. Terminada a oração, K se foi, recobrando a alegria no coração. Perdeu o Cadillac penhorado Cerca de uma hora depois, K tornou a aparecer diante do dr. Hornaday dizendo, nervoso e deseseperado: – O senhor orou gentilmente por mim, mas não adiantou nada. Havia estacionado o Cadillac lá onde lhe contei, mas o funcionário da instituição financeira o encontrou e ficou me aguardando. E acabou levando o automóvel. Perdi a última coisa que possuía. O dr. Hornaday disse, categoricamente: – Que bom! Eu o felicito por isso! – Bom, coisa nenhuma! – disse K, não mudando o ar de desespero. Mas o dr. Hornaday retrucou: – Que bom! Agora, sim, você poderá se reerguer! Mas K disse, em total desespero: – Perdi tudo. Se eu voltar para casa, o dono do imóvel expulsará minha mulher de casa. Afinal, há mais de dois meses que não pago o aluguel. O dr. Hornaday disse “Que bom” e realmente foi bom, mas isso ele iria descobrir só mais tarde. Foi pela seguinte razão que o teólogo disse “Que bom”: devemos sempre, onde estamos, nos levantar com aquilo que possuímos realmente, aquilo que realmente nos pertence, sem nos apossarmos do que pertence aos outros. É errado ficarmos segurando às escondidas o que pertence aos outros, e tentar nos reerguer alicerçados nisso. Foi por causa da lei fundamental segundo a qual devemos nos levantar apenas com aquilo que realmente nos pertence que o dr. Hornaday disse as palavras acima. K escondia o Cadillac, que por direito pertencia à instituição financeira como penhora da dívida não saldada, estava usando-o para sua autopromoção, tentando se reerguer alicerçado em algo que estava acima da sua verdadeira capacidade, e aí estava o erro de K. – Então, que devo fazer agora? Perguntou K. O dr. Hornaday apresentou-o a um conhecido, que vivia negociando automóveis usados, e providenciou para que K pudesse alugar um carro velho, para usar temporariamente como meio de locomoção. Mas o automóvel era antigo, de 24 anos atrás, e estava caindo aos pedaços. Pelo menos era possível dirigi-lo, mas era um automóvel com aparência realmente antiga. Porém, por andar num carro adequado à situação financeira dele no momento, futuramente tornou-se a sua salvação. Com automóvel velho, mas todo sorridente No dia seguinte, K estacionou esse automóvel diante da janela do escritório do dr. Hornaday. Era um carro tão velho que não precisava nem buzinar; só de ouvir o barulho típico de automóvel antigo, podia-se saber que era ele que estava chegando. O teólogo espiou pela janela. Comparado ao Cadillac luxuoso com que trafegara no dia anterior, que grande diferença! Mas K estava com a fisionomia diferente daquela do dia anterior. Ele viera dirigindo um carro luxuoso, mas estava com a fisionomia triste, melancólica. Hoje, porém, ele estava com um carro caindo aos pedaços, mas com o rosto alegre e sorridente. Quando os dois se entreolharam, deram sonoras gargalhadas. Aparentemente, a perda do Cadillac foi um acontecimento negativo, mas, do prisma interior, foi para ele um acontecimento realmente positivo. Diferentemente da véspera, no dia seguinte ele era uma nova pessoa. Não tinha mais aquele temor “Não vão levar este Cadillac como pagamento da dívida?”. Ele já não tinha mais o que temer. Ele não estava num veículo dos outros, mas sim num que lhe pertencia por direito. Estava no que era realmente dele, que não podia ser levado por ninguém. Por isso, não estava, na aparência exterior, tentando enganar os outros. Olhando para o paletó dele, o lenço elegante, com as iniciais bordadas, não estava mais lá. É que ele não tinha mais necessidade de se vestir luxuosamente para enganar as pessoas. Assim, ele conseguiu uma base para reerguer alicerçado naquilo que lhe pertencia, sem depender de coisas exteriores, ou daquilo que não lhe pertencia. Mais tarde, um novo destino iria germinar e crescer a partir dessa base. A Causa do Destino O que impulsiona a nossa vida não é a força exterior, mas sim a força interior. A força interior é a nossa própria força da mente que age em conformidade com a lei mental. O dr. Hornaday contou a K que, dependendo de como a pessoa utiliza a própria mente – ou seja, de como a própria pessoa muda o seu modo de pensar – , muda imediatamente o destino dela, que é o efeito. Mudar o modo de pensar não consiste em devanear como se sonhasse acordado, nem acalentar sonhos efêmeros com expectativas esperançosas. Mudar o que se desenha na mente, ou seja, o pensamento, significa mudar a convicção, renovar a decisão. Consolidar a inabalável convicção de que, como filhos de Deus que somos, possuímos aqui, agora, em nosso interior, a força infinita de Deus constitui a consciência fundamental que se torna a base para a concretização das coisas e dos fatos. Alguém pode contestar, questionando por que, se é possível governarmos o nosso destino através da atitude mental que tomamos, dr. Hornaday e K não puderam evitar a perda do Cadillac, que acabou sendo apreendido pela instituição financeira, apesar da oração que realizaram. Mas esse automóvel estava sob penhora e já não pertencia de fato a K. Era algo que a instituição financeira vinha procurando com olhos de lince para o apreender, e, no mundo mental, já pertencia a essa instituição. Continuar de posse dele significa edificar a vida de K sobre o que fora usurpado. Isso corresponderia a edificar sua vida num alicerce falso que não lhe pertencia, e, por conseguinte, a vida não ficaria solidamente fundamentada. Se riquezas ou fama são acumuladas sobre o que não pertence à pessoa, acabam sendo tomadas de volta; afinal, elas foram frutos da usurpação. Devemos edificar nossa vida sobre um alicerce sólido. Naturalmente, mesmo que seja algo que pertence a outro, se tomamos emprestados licitamente, com a anuência do proprietário, ele nos pertence enquanto o temos emprestado, de modo que não constitui nenhum mal usarmos objeto ou dinheiro emprestado para o nosso trabalho, desde que de maneira lícita. No caso de K, ele estava fugindo com o automóvel para que a instituição financeira não o levasse como pagamento da dívida, portanto, tentava edificar sua vida sobre um alicerce que não lhe pertencia – dr. Hornaday esclareceu que estava aí o erro de K. Foi assim que, apresentado por dr. Hornaday, K alugou de um negociante de carros usados um automóvel caindo aos pedaços para seu uso imediato, e, no dia seguinte, dirigindo essa “antiguidade”, K rumou na direção do cinema chamado Chinese Theater, de propriedade de um certo sr. Grouman. Fora nesse cinema que as produções de K foram exibidas e ele se tornara famoso. Quando K chegou a uma esquina de Hollywood, encontrou um terreno baldio que servia de estacionamento. Estranhamente, havia nessa esquina da famosa Hollywood três terrenos vagos, onde as pessoas deixavam estacionados seus automóveis. Ele estacionou ali e ia descendo do velho automóvel, quando foi chamado por um homem. Isso foi para ele um fato inesperado, pois K não sabia quem era esse homem. Tentou se lembrar, mas não conseguiu. Se fosse alguém que ele conhecesse, K, envergonhado, certamente não teria descido do carro velho e teria fugido para algum outro lado. Mas, como pensou que se tratava de um desconhecido, estacionara diante dele. Este dirigiu-se a K e disse: – Ontem pensei que vi o senhor dirigindo um Cadillac de última linha, mas não era o senhor? – Sim, era eu mesmo. – respondeu K. – Que deu no senhor, para andar num carro tão velho hoje? – Vou lhe dizer a verdade: ando mal das finanças e ontem a instituição financeira apreendeu aquele carro como pagamento da minha dívida – assim disse, honestamente. Quem ajuda o outro é ajudado O homem, sem esconder a expressão de espanto, perguntou: – Está dizendo que foi à falência? – Fui à falência sim, e tudo está dando errado para mim. Mas quem é o senhor? – O senhor não me conhece? Não se lembra de mim? – Não, não consigo me lembrar. – Talvez possa se lembrar se eu lhe conhtar isto. Há mais de dez anos, eu tentava arranjar trabalho no setor técnico de um certo estúdio. Estávamos em crise financeira e ninguém queria me dar emprego. Na época, eu era seu fã. Ouvia muito a seu respeito. Soube que o senhor é uma pessoa de coração nobre, que sempre ajudava os jovens. Um dia, quando o senhor saída do estúdio e entrava no seu carro – falando nisso, na época o senhor andava com um motorista particular – , escrevi uma carta ao senhor pedindo que me ajudasse a arranjar emprego e joguei-a dentro do seu carro. Recorda-se? – Não, não me recordo. Naquele tempo, muitas pessoas jogavam cartas com pedido de ajuda nos automóveis de cineastas famosos, e K não conseguia se lembrar do caso desse homem, por mais que tentasse. O desconhecido disse: – É natural que não se lembre, pois havia muitas pessoas que fizeram o mesmo que eu. Mas o senhor imediatamente apresentou-me a uma certa pessoa. E foi assim que eu consegui trabalho. O que tenho hoje devo ao senhor... Mas não quer tomar um cafezinho por aí? Os dois entraram numa cafeteria nas imediações, e K contou detalhadamente a esse homem como chegara àquela situação financeira. Após tomar a segunda xícara de café, o homem disse: – Só um instante, que preciso telefonar. Levantou-se, ficou cerca de cinco minutos ao telefone, voltou, e disse a K: – Aquela antiguidade que é o seu carro anda mesmo? Se é que anda, não quer me dar carona e ir até o laboratório onde trabalho? Quero mostrar-lhe algo que pode lhe interessar... Algum tempo depois, a bordo do carro caindo aos pedaços, os dois chegaram a um laboratório de filmes coloridos, em que o homem era diretor. Era o laboratório de pesquisa da empresa que realizava a pré-estreia de filmes coloridos produzidos em todo o território americano e que os distribuía para todo o mundo. E K acabou sendo admitido para nela trabalhar. Tratava-se de uma trabalho que caía como uma luva para K, e uma posição adequada possível para ele. Se no auge da sua carreira K não tivesse ajudado os jovens, não teria recebido esta graça, mas, como havia ajudado, estava colhendo agora os frutos. Realmente, a lei “Dá, e receberás” é verdadeira. Assim comenta o dr. Hornaday a respeito desse episódio: “Realmente, os semelhantes se atraem. Anos atrás, K havia prestado um favor a certa pessoa e se esquecera disso. Decorrido tanto tempo, a virtude acumulada no celeiro invisível estava retornando a ele. Mas podemos encontrar a lição mais importante nas palavras ditas quando os dois se despediram...” Que foi dito na despedida dos dois? Despedindo-se de K, perto do estacionamento onde este deixara aquele carro velho, o homem disse: – Não é interessante? Se o senhor não estivesse dirigindo este carro caindo aos pedaços, eu não ficaria sabendo que o senhor estava passando por tamanha dificuldade, e não pensaria em lhe arranjar emprego. O fato de K ter aceitado com docilidade o velho automóvel tornou-o novamente alvo de um destino feliz. Isso aconteceu, graças, também, às virtudes acumuladas no passado, de ter ajudado os outros, mas, para que essa virtude germinasse e desabrochasse novamente a flor da prosperidade, era preciso que K ficasse livre de todas as impurezas da falsidade, de todo embuste, fanfarronice, e liquidasse com tudo que pertencia aos outros, manifestando o que realmente ele é. Quando isso aconteceu, aí, sim, foi-lhe estendida a mão da salvação. Por que ele não precisou entregar a casa Quando li essa história do dr. Hornaday, lembrei-me de um adepto da Seicho-No-Ie chamado Kan´ichi Ishibashi. Ele morava perto da ponte chamada Yumeno, em Kobe, numa casa que parecia cortar a esquina num triângulo. Nessa casa de pouca profundidade, ele morava e trabalhava como acuputurista. Mas quase não apareciam clientes, e havia alguns meses que ele não pagava o aluguel. O proprietário do imóvel vinha sempre cobrá-lo, dizendo: “Hoje você vai pagar o aluguel? Se não pode pagar, entregue a casa”. Mas, saindo dali, ele não tinha para onde ir, de modo que se mantinha firme na casa. Porém, o sr. Ishibashi conheceu a Seicho-No-Ie e recebeu orientação. Com isso, percebeu que esteva errado ter odiado até então o dono do imóvel que tentava despejá-lo da casa, pensando que era um velho inflexível e apesar do não-pagamento do aluguel, poderia permanecer na casa durante tantos meses, e nem pensara em agradecer-lhe por isso. Decidiu: “Eu nem paguei o aluguel e fiquei tanto tempo nesta casa, e nem senti gratidão por isso. Como estive errado. Da próxima vez que ele vier despejar-me da casa, sairei docilmente”. Preparou seus pertences e ficou esperando pelo dono. Certa noite, apareceu o proprietário como de costume, cobrando-o: – Arranjou o dinheiro do aluguel? Se não conseguiu, terá de dair daqui ainda hoje, de qualquer jeito. O sr. Kan´ichi Ishibashi respondeu: – Muito obrigado, senhor, por permitir que eu morasse aqui até hoje, apesar do não-pagamento do aluguel. Agora mesmo sairei daqui, como o senhor disse, mas nunca irei esquecer este favor que lhe devo. Daqui a algum tempo, se voltar a ter sorte na minha vida, pagarei este favor, sem falta. Farei questão de pagar o aluguel nessa ocasião. Então, senhorm, passe muito bem. Pegou seus pertences, que eram poucos, e, acompanhado da filha ainda pequena, ia saindo da casa. Nevava lá fora. O proprietário disse: – Você pretende sair mesmo, nesta neve? – Sim, senhor. Percebi que não é justo continuar morando aqui, se não tenho como pagar o aluguel... – Arranjou outro lugar para morar? – Não, senhor. – Mesmo assim, vai embora? – Sim, senhor. Perdoe-me. Estou pensando em sair para uma viagem de peregrinação aos templos de Shikoku com esta filha. – Debaixo desta neve? Que tal reconsiderar? – Até agora fiquei teimando em permanecer aqui, mas percebi que essa é uma atitude incorreta. Assim respondeu o sr. Ishibashi, e foi saindo docilmente, quando o proprietário disse novamente: – Que tal esperar mais um pouco? Está nevando muito. – Sim, senhor, mas... Ele ficou hesitando, e o locador, que até então repetia com severidade “Entregue-me a casa, vá embora daqui”, disse: – Não há nenhuma necessidade de sair sacrificando-se tanto. Não sou nenhum demônio, e jamais pensaria em jogá-los na rua, debaixo dessa neve. Fique mais algum tempo e continue trabalhando aqui, que arranjarei clientes para você. Divulgarei para as pessoas que sua acupuntura funciona mesmo. Por que o proprietário da casa, que, enquanto o sr. Ishibashi teimava em permanecer nele morando, repetia severamente “Vá embora daqui”, mudou radicalmente quando o inquilino concordou em sair docilmente da casa, chegando até a dizer “Fique mais um pouco. Arranjarei clientes para você”? Foi porque o sr. Ishibashi, até então, morando sem pagar aluguel, não vivia sobre o que lhe pertencia, mas alicerçado no que era usurpado daquilo que pertencia ao outro. Deixando de ter essa mente que usurpa, desprendeu-se de tudo e, colocando a própria vida sobre o nada original, entregou-se nas mãos de Deus. Nesse momento, é que começa a manifestar-se a Provisão infinita de Deus.

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