Volto do sorvete para continuar a falar do Onfray... onde estava mesmo?
Ah, sim, permitam-me que eu transcreva um pequeno trecho do livro dele que está na sobrecapa do referido opúsculo, para alguns parcos comentários...
"(...) A criação de além-mundos não seria muito grave se seu preço não fosse tão alto: o esquecimento do real, portanto, a condenável negligência do único mundo que existe. Enquanto a crença indispõe com a imanência, portanto, com o eu, o ateísmo reconcilia com a terra, outro nome da vida. (...)"
Bonito trecho, e que expõe, logo de cara, o que pretende o ateísmo: resgatar o homem de seus delírios oníricos de um outro mundo para trazê-lo de novo à realidade da vida. Seria isso? Ainda sequer li o livro...
Buenas, se for assim... se for assim, é interessante observar um certo paralelismo entre o ateísmo e outras crenças não cristãs (por incrível e contrastante que pareça tal comentário), que privilegiam o aqui e agora em detrimento de um comportamento, ou de uma expectativa de comportamento futuro.
Não, isso não tem nada a ver com ética, muito pelo contrário. Dawkins me convenceu (e isso é verdade!) mais do que o suficiente de que um ateu pode, sim, ser mais ético que muitos teístas, sem o menor peso na consciência. Seu vetor moral deveria ser o respeito pela vida em comunidade, e não um certo temor infundado, a meu ver, daquele velho sistema de penas e recompensas que as religiões tanto nos infundiram por vários séculos.
E aqui é que vai o grande diferencial da coisa: os ateus atacam e criticam a religião, não Deus. O biólogo Dawkins maravilhou-se com a ateia evolução, sem argumentos plausíveis da inexistência divina (afinal de contas, como provar que algo inexiste?), por sua vez, o polemista Hitchens prefere servir de advogado do diabo de Madre Teresa de Calcutá e bancar o crítico literário da Bíblia do que provar, digamos, ontologicamente, que Deus inexiste. Agora, chegou a vez do filósofo Onfray desfilar seus argumentos filosóficos ante minhas pupilas e meu cérebro. Conseguirá ele?
Um dos grandes problemas do Ocidente (e creio que no próprio oriente também) seria o fenômeno da umbigalização do mundo, ou seja, partir e terminar determinada tese sempre fincado na sua terra, sem aventurar-se por outras crenças. O agnóstico Bart Ehrman, autor de duas boas obras sobre a Bíblia, é um claro exemplo disso, fincando suas raízes apenas no cristianismo, como se toda a humanidade fosse cristã...
Neste ponto, méritos para a SNI, que estuda budismo e cristianismo e, não contente com isso, ainda identifica pontos em comum entre estas duas crenças. Na minha modesta opinão, faltaria um olhar mais carinhoso da SNI para o Islamismo, barreira esta que está, timidamente, começando a ruir...
Retornando, os ateus, neste particular, assemelham-se a, quem diria, a torcida arco-íris, et saviez-vous le pourquoi, monsieur Onfray?
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