Uma das coisas que tive de concordar com os papas ateus é a do injusto preconceito dos teístas para com eles. Preconceito no sentido de não poder se confiar num ateu para exercer um cargo público, por exemplo (FHC à parte...), por ser tal pessoa desprovido de ética e outras cositas mas... balela, a meu ver. Ponto para os ateus.
Neste ponto, devo reconhecer mais ainda: muitos se tornam ateus por se revoltarem contra as injustiças do mundo, e, sejamos francos, tem de se ter muita coragem para inadmitir Deus e finalizar com várias hipocrisias disfarçadas de conselhos como "foi melhor assim", "Deus sabe o que faz" e outros lugares comuns absolutamente desnecessários. Comparo tal momento à terceira metamorfose prevista logo no iniciozinho de Assim Falou Zaratustra, o do leão em criança... neste caso, o ateísmo como resposta às injustiças do mundo é uma atitude justa e, porque não dizer, honesta.
Entretanto...
Se os amigos repararem há quantas semanas venho me debatendo sobre tal tema aqui, perceberão que a conclusão a que chegarei foi fruto de pensamento meu, mas que, por uma feliz coincidência, descobri hoje, lendo pela primeira vez o volume 16 da Verdade da Vida, que o Mestre Masaharu Taniguchi pensava da mesma forma. Entretanto, não vou me defender usando o pensamento dele (que, aliás, é o mesmo que o meu), e sim, utilizar da minha própria espada... que Deus me valha!
Não há civilização, por mais avançada ou atrasada que seja, que não acredite nos deuses, já nos advertia Cícero, em uma antropológica asserção. Assim, tomemos o fenômeno religioso como universal, até mesmo pelo fato de inexistir uma sociedade ateia, mesmo que isolada do mundo, salvo as artificiais construções comunistas e socialistas, de tão má memória, mas isto é assunto para outra discussão, voltemos ao texto, Falabella...
A ideia de um deus, vários deuses, ou de um princípio (algo que não seja especificamente um ser, ontologicamente falando, mas uma nomos, uma norma...) sempre foi universal aos homens. Entretanto, estes mesmos homens, do aborígine australiano ao esquimó do ártico, passando pelo índio boliviano ao tuaregue do Sahel, tem níveis de evolução distintos, que somente condições mui apropriadas podem desenvolver em melhor situação...
Tais "níveis de evolução" permitem concepções de Deus distintas. Neste sentido, tomemos como exemplo o já familiar credo judaico-cristão: nos tempos de Moisés Deus era ciumento, possessivo, já no tempo de Cristo Ele era o Deus do Amor... e atenção para a dica de Cristo: "Eu não vim para destruir a Lei, e sim para confirmá-la"... ou seja, Cristo não veio para dar outra lei, e sim para atualizá-la...
Neste passo vieram Buda (um dos maiores metafísicos que já pisaram nesta terra, metafísico filosoficamente falando, rivalizaria fácil fácil com Kant, inobstante a carapuça religiosa que lhe impuseram), Maomé (e sua maravilhosa concepção de "submissão a Deus" tão oportuna para os dias de hoje) e vários outros, menores e maiores que, respeitando a cultura de seu locus e o nível de evolução de seus ouvintes (ok, mesmo Cristo não queria revelar mais coisas pois acreditava que seus discípulos não seriam fortes o bastante para ouvir...) pregariam a mesma verdade, a existência de um princípio comum a toda a humanidade.
Muito bem, Leonardo, belas palavras, mas, e quanto ao problema do sofrimento humano, o que você nos diria? A seguir, cenas do próximo post...
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