Sim, eu falei que iria falar como próximo tema "conhecer Deus", mas antes, lembrei-me durante a semana de mais um ponto que nosso amigo Onfray falou naquele trecho de seu tratado: era algo mais ou menos como uma fuga da realidade, sendo que o ateísmo nos traria de volta à realidade. Ok, belo trecho e bela intenção, sed, quid est realitas?
Realidade. Eita palavrinha difícil... digamos, apenas digamos, que este termo abstrato é, ainda, absurdamente subjetivo (escalo o adjetivo para contentar os profetas da objetividade, que se irritam em apenas desconfiar que a realidade é, sim, algo muito subjetivo, não é objetiva como muitos propagam).
E o que isso tem a ver com nossa conversa? Ora, tudo! No momento em que uma determinada coisa produz reações diferentes para dois agentes distintos, logo tem-se que a Realidade não é algo assim tão homogêneo. Um rato, para minha mãe, é um bicho horrendo, para outros, é um animalzinho simpático...
Vamos imaginar que nosso querido Onfray fosse um paranormal. Teria ele como afirmar que Deus inexiste? Caso ele afirmasse ainda isso, de onde ele imaginaria que proviesse seus poderes? Do vazio budista?
A verdade, meus caros, é que nada se pode aferir como verdadeiro neste mundo (que não digo nem fenomênico, pois nesta discussão quero utilizar o menor número possível de termos da SNI) como Realidade pois esta é absolutamente subjetiva, não se pode aferir com um único padrão algo que tem, pelo menos, 6 bilhões de padrões...
Multifacetada a realidade, não?
Neste ponto, muita razão tem o poeta que afirmou que nossa vida é um sonho... se é um sonho, a realidade é irreal, posto que não firmada em bases verdadeiras...
Tomemos outro exemplo, o livro de Monsieur Onfray está diante da tela do meu computador, virado de costas. A realidade me aponta que esse livro é meu, mas, se de repente, amanhã eu perdê-lo? Ou acontece dele ficar molhado? Ou se eu ser roubado? O livro não seria mais meu, com exceção do segundo exemplo, mas ficaria tão prejudicado que seria melhor que eu o tivesse perdidio também...
Mesmo entre ateus a realidade pode significar algo distinto entre si: tomamos como exemplo Jacob Bazarian, autor do honesto Problema da Verdade e Ayn Rand, o primeiro, comunista; a segunda, capitalista. Ambos possuem Weltanschaungen diferentes (Hãããã?!? "Visões de mundo", no idioma de Goethe): ambos são materialistas, mas encaram a matéria como algo distinto, a empregabilidade da mesma para o coletivo é elogiada por um e execrada pela outra, isto porque ambos possuem visões diferentes desta categoria que Onfray pretende que seja estanque e imóvel: a realidade.
Assim, retornamos ao nosso problema original, o do ateísmo. Em primeiro lugar, um ateísmo que se preze o nome deve focar sua crítica em Deus e não em seus fiéis ou numa pretensa alienação da realidade.
Neste sentido, nem mesmo Nietzsche conseguiu ser tão crítico contra Deus: neste quesito, no meu humilde entender, Epicuro ganha, e de goleada: é dele a concepção mais arguta da inexistência divina, leia no próximo post!
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