domingo, 28 de agosto de 2011

Valei-Nos, Santo Agostinho!

"Eu ouço a voz que soa: busca sempre a luz..."
"Vi claramente que todas as coisas que se corrompem são boas: não se poderiam corromper se fossem sumamente boas, nem se poderiam corromper se não fossem boas. Com efeito, se fossem absolutamente boas, seriam incorruptíveis. e se não tivessem nenhum bem, nada haveria que se corrompesse.
De fato, a corrupção é nociva, e, se não diminuísse o bem, não seria nociva. Portanto, ou a corrupção nada prejudica - o que não é aceitável - ou todas as coisas que se corrompem são privadas de algum bem. Isto não admite dúvdia. Se, porém, fossem privadas de todo o bem, deixariam inteiramente de existir. Se existissem e já não pudessem ser alteradas, seriam melhores porque permaneciam incorruptíveis. Que maior monstruosidade do que a firmar que as coisas se tornariam melhores com perder todo o bem?
Por isso, se são privadas de todo o bem, deixarão totalmente de existir. Logo, enquanto existem, são boas. Portanto, todas as coisas que existem são boas, e aquele mal que eu procurava não é uma substância, pois, se fosse substância, seria um bem. Na verdade, ou seria substância incorruptível, e então era certamente um grande bem, ou seria substância corruptível, e, nesse caso, se não fosse boa, não se poderia corromper.
Vi, pois, e pareceu-me evidente que criastes boas todas as coisas, e que certissimamente não existe nenhuma substância que Vós não criásseis. E, porque as não criastes todas iguais, por esta razão, todas elas, ainda que boas em particular, tomadas conjuntamente, são muito boas, pois o nosso Deus criou 'todas as coisas muito boas'".

Sim, senhores, hoje, 28 de agosto, festejamos o dia de Santo Agostinho, nascido em 13 de novembro de 354, um dos mais eminentes Doutores da Igreja Católica, filho da não menos venerável Santa Mônica e autor desta pérola acima anotada, presente em suas Confissões, Livro VII, II, 12, sob o título de "O Problema do Mal. A Perfeição das Criaturas".
E por qual motivo a tão insólita homenagem? Porque ele, ainda pelos idos dos primórdios do Cristianismo, mais precisamente entre 354 e 430 da nossa era, foi um dos primeiros pregadores conhecidos do nosso velho, useiro e vezeiro Princípio do Relógio do Sol.
Sim, senhores, releiam o texto acima. Ainda que não esteja escrito com tintas tão claras quanto as que ilustram os livros da Seicho-No-Ie, ele foi uma das primeiras vozes que bradou que o mal não existe.
Pegando a Antologia Ilustrada de Filosofia, que tenho, de autoria de Ubaldo Nicola, lemos, ao tratar da problemática do mal sub oculi Agostiniani, à pg. 134 que "a solução agostiniana do tormentoso dilema [da existência do mal] é de enorme simplicidade: o mal, em si mesmo, não existe, é ausência, limitação do bem. O mal é puro não-ser, assim como a escuridão não tem uma realidade substancial, mas existe somente por via negativa, como ausência de luz".
Não, senhores, não foi Masaharu Taniguchi quem escreveu isso. Foi Ubaldo Nicola em sua Antologia Ilustrada de Filosofia. Mas como é coincidente, né? Qualquer semelhança seria mera coincidência?
E se lermos o conceito de "pecado" de Santo Agostinho, escrito pelo mesmo autor? Seria incrivelmente concidente com que Masanobu Taniguchi escreveu em seu Princípio do Relógio de Sol, mais especificamente às fls. 29/36? Comparemos os dois trechos, primeiro, o do italiano Nicola, versando sobre o pecado agostiniano:

"A única forma de mal existente em todo o universo é a maldade humana que se expressa no pecado - o que significa um distanciamento da vontade humana em relação à lei de Deus"

Agora, o que Masanobu escreve, no último parágrafo da pg. 32: "Considerando tais fatos, podemos entender que o que chamamos de mal não existe como substância, ou, antes, é projeção exterior da força de negação (sentimento de rejeição) que surgiu na mente de quem está avaliando. Sendo assim, à pergunta 'Onde está o mal', podemos responder 'Está dentro da mente humana'".

E, para encerrar qualquer discussão, no Livro VII, II, 16 de suas Confissões, Agostinho, o Santo, assim responde à questão Onde Reside O Mal: "Procurei o que era a maldade e não encontrei uma substância, mas sim uma perversão da vontade desviada da substância suprema - de Vós, ó Deus - e tendendo para as coisas baixas: vontade que derrama as suas entranhas e se levanta com intumescência" (grifo do original)

Ora, pelo casulo da Sutra, homem prodígio! O que vem a ser a tal "perversão da vontade desviada da substância suprema" senão a nossa velha e inexistente ilusão?  Repararam na coincidência dos termos substância?

Por tudo isso é que hoje, dia 28 de agosto, em que comemoramos o dia da ascensão aos céus de Santo Aurélio Agostinho, nascido em Tagaste, antiga Numídia, na África (hoje acredito que território tunisiano), prestamos esta justa homenagem a um dos primeiros homens, talvez o primeiro da raça que, vislumbrando uma luz que só viria a terra quase dois milênios após, pensou, pensou e concluiu: "O mal não existe".

Valei-nos, Santo Agostinho!

Um comentário:

  1. "O mal não existe".É a primeira q vejo essa afirmação fora da SNI.
    E viva Santo Agostinho!

    ResponderExcluir