Boa tarde para todos que, como eu, aguardam com certa e indisfarçada ansiedade o resultado do Flamengo contra o Botafogo, semi-finais da Taça Guanabara, o que, a julgar pelo interesse no ludopédio de meus seis leitores, não lhes deve causar maiores desconfortos, qualquer um que seja o vencedor, com a provável exceção deste blogueiro que vos tecla, que pode ter uma pequena crise criativa após um resultado desastroso para o Mengão... mas, vamos lá, já que faltam menos de 60 minutos para o referido cotejo iniciar...
Ontem, durante a palestra, um senhor que estava me prestigiando, ao ouvir-me tanto falar sobre a necessidade de fé em nossos sonhos (que eu, sabe-se lá o porquê, talvez graças àquilo que os místicos chamam inspiração divina) batizei na hora de fé objetiva, externa, aliada à fé subjetiva, interna, que nasce da convicção de que "eu mereço alcançar determinado ideal", este senhor, germanicamente chamado de Hindemburgo ("ich freue mich, Sie kennenzulernen!") me questionou, e passo a bola (desculpa, hoje as metáforas serão, pelo menos até às 18 horas, futebolísticas) para vocês: "E se a pessoa não tiver fé, o que fazer?"
Pausa para vocês pensarem. Sorte de vocês que têm este tempo, eu, na hora, tive que soltar a resposta na lata, tal qual um juiz que deve decidir, em frações de segundo, se um determinado lance foi pênalti ou não:
"Aí, meu amigo (claro que a intimidade não foi exatamente esta), de nada vai adiantar eu e todos os preletores da Regional falarem durante cinco minutos cada um sobre a necessidade de ter fé. Pouco vai adiantar Jesus Cristo voltar à terra para te convencer. E nem adiantará o Mestre Masaharu Taniguchi sair desta foto aqui, se materializar e aprender português para tentar te convencer: simplesmente sem a sua fé, nada vai adiantar".
Claro que na hora usei outras palavras, mas a essência, nua e crua do que disse, era isso. Permitamo-nos algumas melhores considerações sobre o tema:
Toda religião é, em primeira análise, um sistema de crença baseado em determinados valores e fatores que, sem a participação ativa e passiva do indivíduo, reduz-se ao nada. Ativa no sentido de participação, de engajamento: quando eu vou prestigiar o LeoJisso eu instintivamente estou colaborando para o sistema de crenças que ele e a SNI prega. E passiva simplesmente por você acreditar que o que se fala em determinada religião é verdade ou, pelo menos, digno de fé ou do benefício da dúvida, mesmo que não participe de nenhuma atividade.
Aí podemos crer em várias coisas, digamos, miraculosas ou fora do comum e aceitarmos como verdades inquestionáveis, também conhecidas como dogmas: a virgindade de Nossa Senhora, o fruto proibido de Adão e Eva, a concepção de Buda, entrando no corpo de sua mãe na forma de um elefante pela axila materna, Moisés atravessando o Mar Vermelho etc etc etc.
Não que eu duvide destas cousas. Mas, pelo seu caráter, digamos, incomum, alguns fiéis aceitam de bom grado a justificativa de uma certa linguagem mitológica em tais narrativas, algo escondido dentro da velha desculpa "Bem, quer dizer, não foi bem assim que aconteceu..." E ficamos quites com nossa fé, e confortáveis, racionalmente, dentro do nosso sistema de crenças.
Mas agora voltemos ao nosso cotidiano, ao nosso dia-a-dia: não temos mais frutos proibidos, talvez apenas os envenenados. Temos apenas o dia-a-dia, que permite apenas ver a vida como ela é: acordamos, tomamos café com certo enfado pelas agruras diárias que possivelmente encontraremos pelas próximas dez horas, voltaremos cansados para casa, que nos reserva umas duas horas de televisão que dividirámos com nossa família para repousarmos ao final destes 120, quiçá 150 minutos. Sem frutos, sem serpentes, sem virgens grávidas, sem elefantes xeretas, sem mares partidos. Sem milagres, portanto. Como ter fé neste mundo? Vamos abrir outro post?
Interessante ... vamos lá!
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