sábado, 2 de fevereiro de 2019

13 - Não Deveis Enganar A Vós Próprios, Dizendo: "Sou Inocente Porque O Pecado Inexiste Originariamente"

E aí, resolveram o koan do post anterior? Não lembram? Vou repostar aqui:

Como podemos ocultar algo inexistente? E dar a esse algo inexistente fumos de existência?

Essa é a mesma incoerência que já tinha apontado anteriormente que chegaria nesta frase, só que aqui a coisa piora: como podemos nos enganar a respeito de declararmos inocência ante a inexistência do pecado? Vou colocar em destaque mais uma vez:

Como podemos nos enganar nos declarando inocentes sobre algo inexistente?

Em suma: como a Seicho-No-Ie diz que nos enganamos ao dizer que o pecado não existe?
Ou seja, num momento ela é enfática ao afirmar que o "pecado não existe", noutro ela afirma que nos enganamos ao afirmar isso. Como assim, Mestre?
Para piorar antes de (tentar) responder a esse novo koan, transcreverei o que consta na página 72 do volume 36 d´A Verdade da Vida:

"Se alguém nos perguntar 'Seicho-No-Ie é budismo?', responderemos 'Sim, certamente'. E se nos perguntarem 'Seicho-No-Ie é cristianismo?', responderemos também 'Sim, certamente'. Se nos questionarem 'Isso é uma contradição', diremos 'Sim, exatamente'. Se não abarcar a contradição, não será grande estrada da liberdade absoluta"

Mestre, isto é uma contradição! "Sim, exatamente. Agora vá você resolver!"
Vamos lá então...
Nos enganamos porque por mais que declaremos aos quatro ventos nossa inocência, sim, nos consideramos pecadores. Nos consideramos falhos, imperfeitos e tutti quanti
A próxima frase complementa o que quero dizer aqui, mas não vamos dar spoiler, por mais que a tentação seja grande.
Assim, se tivéssemos a verdadeira consciência divina de inexistência de pecado, saberíamos de cor e salteado um ponto importantíssimo que a Doutrina da Seicho-No-Ie frisa sempre que pode: a tal da tripla adequação à pessoa, ao tempo e ao local.
Pensem bem: se o pecado é algo existente somente no mundo fenomênico, e o mundo fenomênico é instavél e mutável par excellence, o que vem a ser pecado também é instável e cambiante. Sim, é verdade esse bilhete! Explico:
Sempre aprendi nos catecismos da vida que a figura mais impecável (literalmente!) era Jesus Cristo, no sentido de que foi o único até hoje sem pecado algum. Concordo. Mas, analisemos três passagens da vida dEle e veremos algo insólito:
1 - Bodas de Caná - Ele dá um esporro na mãe dele (sim, em Nossa Senhora em pessoa!) antes de transformar a água em vinho;
2 - Figueira - Ele amaldiçoa (Cristo amaldiçoando?) uma figueira só porque esta estava sem frutos para lhe matar a fome; e, para mim, a minha preferida:
3 - A Expulsão dos Vendilhões do Templo - Em que Ele surtou no Templo de Jerusalém com apenas um chicote (fico imaginando se Ele estivesse armado...) botando para fora os camelôs da época a chutes e pontapés.
Agora pensemos: fosse eu ou você, amável leitor(a) que me dá a honra da leitura, que desse uma descompostura na sua própria mãe em público (tanto que acabou parando no Evangelho...), amaldiçoasse uma figueira ou criasse sozinho uma arruaça no principal local da sua religião, você no mínimo seria um pecador, desequilibrado, mal-agradecido e um herege, não? E com algumas doses de Rivotril depois, iria pedir sua penitência junto ao padre mais próximo, não?
Não com Jesus. Ele sabia da tal tripla adequação.
Volto com o Mestre, n ´A Verdade da Vida, vol. 35, pgs. 134-135:

"Ate mesmo no cristianismo, que prega o amor e o perdão de Deus, existe o episódio em que Jesus Cristo, ao chegar ao Templo de Jerusalém e deparar com comerciantes vendendo suas mercadorias e cambistas sentados às suas barracas, enfureceu-se pelo fato de estarem maculando o templo e os expulsou brandindo um chicote. Naquele momento, Deus manifestou-Se através de Jesus Cristo, usando 'arma cortante' (repreensão severa). Deus é bondoso e severo, é amor e justiça, e Se manifesta sob um ou outro aspecto, dependendo da circunstância."  (grifamos)

Viram? Dependendo da circunstância, algo pode ser ou não pecado. E tendo essa tripla adequação em mente, saberemos quando é isso...
Aí vocês me perguntam: e como saber? Meditação Shinsokan, crianças, Meditação Shinsokan...
Mas desconhecemos a tripla adequação, e achamos que algo pode ser pecado ou não. E pior, levamos esse pecado para nós mesmos. Aí, com uma interpretação superficial de que "o pecado não existe" você vai conseguir se livrar este estigma? Me engana que eu gosto...

PS.: Voltando ao episódio das Bodas de Caná, lastimo profundamente que tenham truncado um ou dois versículos daquele relato, que deveria ser a resposta de Nossa Senhora: "Então Sua mãe virou-se para Ele e disse: 'Olha aqui, você pode ser Filho de Deus, Filho do Homem, Salvador do Mundo, o que for, mas aqui você é meu filho, e como tal, me deve obediência, senão vou contar para o seu pai! Agora trate de salvar este casamento aqui para os noivos não passarem vergonha! E Jesus concordou", e aí aparece a cena de Maria dizendo "Façam tudo o que Ele pedir" e aí o resto é história...

Um comentário:

  1. Maravilhoso!!! Kkkkk (risos, muitos risos) Muito obrigada! Muito obrigada!

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